domingo, 6 de novembro de 2011

Asas do desejo – mistérios de uma Papisa



                Há pessoas que nos despertam sensações estranhas. Não são sensações simples, que possam ser classificadas como boas ou más, porém complexas para fazer-nos refletir e até mudar alguns paradigmas.

                Há uma gaúcha entre nós que chegou de mansinho, se submeteu à vontade dos dominadores presentes no primeiro encontro, e se revelou uma promissora sádica na segunda play. A beleza de longos cabelos negros não é nada óbvia, exceto pelo gênio forte exposto nas poucas palavras que ela troca.
                Morgana Le Feu ou Senhora M13 não me permite usar o verbo ser (ainda). Não a decifrei com segurança para entender o que se passa em sua alma, mas sei o suficiente acerca da satisfação que tem trazido ao meu querido Monstrinho.
                No tarô, o arquétipo 2, a Papisa (ou Sacerdotisa), representa a sabedoria, a gnose, o sagrado, a lei e seus mistérios, a Cabala, a igreja oculta e a reflexão. Quando propus este arcano à Senhora M13 pensei no princípio feminino, que tanto é receptivo e materno, quanto misterioso e intuitivo. Há ainda que considerar os aspectos em grupo que são a reserva, a discrição, o silêncio, a meditação, a fé, a determinação e a confiança atenta.

                Dizem que pessoas deste arquétipo são pacientes, meticulosas, resignadas, com tendência às ciências e forças ocultas, mas não são afetuosas, embora recebam bem. O adendo a esta parte está no afeto. Noto que essa relação de afeto está intimamente ligada à emoção e à entrega; portanto, desejo que brevemente a minha parceira de liderança feminina de grupo consiga conquistar seu sonho e possa conversar mais comigo (diálogos cheios de 'bahs') e com todos nós.
                Mas mais do que tudo, desejo que ela continue fazendo meu Monstrinho feliz, que aprenda mais e mais deste mundo BDSM e que consiga mostrar a todos a pessoa maravilhosa e generosa que certamente é. A cara pode até ser de sádica, mas sinto que há uma energia tão acolhedora quanto a minha naquela alma soberana.
              

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A galera ‘tri’ do Sul



                “Este é um grupo de gente chata, pouco democrática e rigorosa em quesitos como ética”. Assim é a SAT. Antipática por natureza. Mesmo assim, volta e meia aparecem novas figuras querendo saber ‘qualé’ da chatice dessa gente um tanto estranha. E foi assim que conhecemos o Senhor H e sua mimosa, a subamanda e a Mistress Atena. 


                A última é do Sul de Santa Catarina e os demais da Grande Porto Alegre. O primeiro contato com a galera gaúcha, ao que tudo indica, partiu do JonJon; não sei bem quais os meandros e como surgiu o convite. Por fim, o nosso cônsul oficial, MZ – vulgo Monstrinho -, fez as honras da casa ao participar do encontro BDSM de Porto Alegre recentemente. Já com Mistress Atena a conversa já era longa há mais de um ano. Eu a conhecia de longos papos virtuais e por telefone, assim como ela já havia conversado com JonJon e Kurumin. Logo, o convite tardou, mas aconteceu.

                E como não existe acaso, nesta última play estavam todos lá com seus sorrisos largos, francos, como todo bom sulista sabe dar quando quer ser bem aceito. Chegaram apenas no sábado, mas puderam desfrutar conosco do ápice da confraternização, além do bom churrasco feito pelo duduh no domingo.

                Ainda não tenho muitos elementos para discorrer sobre eles e nem pretendo ser o Olho de Rá do grupo, exceto um pouco mais sobre a Atena. Do Senhor H tive a impressão de ser um praticante cauteloso, de bastante conhecimento e curiosidade. A simpatia é típica do gaúcho – sim, eu tenho que puxar a sardinha pro meu lado. E ele protagonizou uma das cenas mais lindas desta play com a nossa querida Sophia (foto). A emoção de ambos foi contagiante.

                Da mimosa, creio que a alcunha foi escolhida com muita propriedade. No Rio Grande do Sul, costumamos chamar ‘mimosas’ as moças que são graciosas, bonitas e de imagem terna. E a mimosa é realmente muito bonita. O rosto de traços fortes, a personalidade marcante não tira seu ar meigo. E aquele sininho no pescoço foi fantástico!

                E a subamanda é um amorzinho de pessoa. Delicada e simpática, mesmo tímida diante da vergonha que sentia de mim, pode mostrar que tem excelente senso crítico e eu aprecio pessoas de idéias lúcidas. A vergonha, aliás, poderia ser dispensada. Fiquei feliz dela ter se entregado às cordas do meu Monstrinho. E quem sabe uma hora ela não toma coragem para o resto?

                Por fim, minha amiga Atena deu um show de humildade. Atenta e observadora, foi cooperativa, espontânea e alegre o tempo inteiro, além de ter me ajudado na mumificação da Naivara. Eu bem sei que sua mente é altiva, mas ela realmente provou que eu estava certa na minha intuição. Desejo, amiga, que estejas mais e mais presente às nossas plays para que todos possam conhecer teu lado generoso.
                Enfim, essa gente 'tri legal' fez da nossa play um evento mais hospitaleiro, divertido, cheio de olhos curiosos e ouvidos atentos. 

Obrigada aos quatro pela oportunidade de conhecê-los pessoalmente e esperamos tê-los em breve em novos encontros.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O Monstrinho e O Pendurado



                Existem problemas difíceis de resolver, sobretudo quando nascem de situações engraçadas. Há duas figuras que estão na SAT as quais me orgulho muito de ter introduzido no grupo: MZ e duduh - e eles têm problemas...rs. 


                O primeiro é e será meu eterno Monstrinho, protagonista de muitas histórias deste blog. Corresponde ao arcano 19, cujo arquétipo é representado pelo Sol. E quem conhece MZ sabe que ele é o Sol. Trata-se de uma alma cheia de luz, sapiência e conciliação. Ao lado dele, nunca há tempo ruim e há solução para tudo.
                “Se não for para ser divertido, não deve acontecer”. Assim ele sempre conduz as relações, mesmo sendo submisso, com muito bom humor, talento e criatividade, marca deste ariano que adora desafios num limite extenso de mente libertina.
                Nesta play, ele teve o prazer de ter a condução da Morgana – ou Senhora M13 – cuja inexperiência no BDSM não lhe tirou o brilho do olhar típico de domme, nem aliviou suas mãos aparentemente pequenas e frágeis, mas cheias de intenções sádicas. Para mim uma alegria ver meu Monstrinho feliz. Para Morgana, uma oportunidade ímpar de começar com um dos melhores submissos disponíveis no meio BDSM brasileiro.
                A mommy aqui ficou muito feliz de provar novamente desses abraços que sempre reenergizam e me fazem acreditar do quanto vale a pena viver, progredir e optar pelas soluções generosas que a vida apresenta.
                E as suspensões estão cada vez mais lindas e criativas. Parabéns!



                O segundo talvez seja um dos mais gatos submissos que se tem notícia, além de ser um menino de ouro, no melhor sentido da palavra. Duduh também é meu pupilo, com todo orgulho do mundo, e também é personagem de alguns posts mais antigos deste blog. Seu arquétipo é O Pendurado, arcano 12, número que representa o equilíbrio e a justiça pela generosidade.
                Posso afirmar a vocês que se há alguém prestativo neste mundo é o meu protegido duduh. E com toda essa entrega, nas voltas que a vida dá e dentro da SAT, ele encontrou a florzinha Manndy, uma jovem promessa do SM do Sul. Mais linda impossível, com um abraço franco e sorriso encantador, ela tem feito meu querido duduh muito feliz, para a alegria dessa matriarca coruja. Ambos são belíssimos e se complementam na estética; mas nem só de beleza eles vivem porque têm mostrado excelentes progressos dentro do BDSM e, pelo que senti, fora também, já que mantêm um relacionamento estável.

                Juntos são considerados o casal mais fofo do grupo, o que eu concordo, até porque é impossível estar ao lado deles sem rir. Duduh tem um senso de humor surpreendente, além de transmitir doçura no olhar, mesmo quando conta piadas. E ser bonito muitas vezes é mais difícil do que ser feio. O preconceito existe e o ‘provar pra todo mundo que também sou legal’ se torna tarefa árdua diante dos olhares desconfiados de algumas pessoas. Mas eles nos provam que sim, é possível ser lindo, ser legal e ter repertório!
                Guris queridos, obrigada pelos momentos de prazer, de alegria, pela generosidade e pelo carinho que sempre devotam a mim. A cena militar foi impagável e ver MZ de vestido com unhas pintadas, e duduh de biquíni cortininha, com óleo de bebê realmente não tem preço!!! Gurias, obrigada por conduzirem tão bem meus meninos e por fazê-los tão felizes...


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Um certo Mago e o Louco que enxergava longe



                Eu tenho uma teoria: a vida só faz sentido se encontrarmos pares que comunguem conosco dentro dos diversos guetos dos quais faremos parte durante a vida (seja encarnada ou desencarnada). E eu me considero uma das pessoas mais realizadas dentro do BDSM brasileiro por fazer parte de um grupo pequeno, porém coeso e sincero. E dentro deste grupo, intitulado SAT BDSM, existem duas pessoas que considero partes de um pentágono perfeito – ímpar inclusive nas imperfeições: JonatanStrange e Pexis, respectivamente arcanos 1 e 0, ou O Mago e O Louco.


                Nesta play, não houve surpresa quanto aos papéis de ambos. JonJon foi o organizador abdicado e dedicado de sempre e Pexis foi o dominador psicológico da cena, com todo seu repertório no mínimo original. Mas para mim, partilhar a companhia de ambos é sempre um evento. Meu babyboy JonJon tem tantas histórias comigo que produziriam um blog inteiro bem extenso. Ele está feliz, mais maduro, mais seguro, mais tranqüilo e com mais controle de si mesmo – porque dos outros ele sempre teve. Enxergo a plenitude no fundo dos seus olhos e a tal autodestruição típica dos arianos está ficando cada vez mais distante da sua realidade. Eu como mommy não poderia ficar mais feliz. E boa parte dessa responsabilidade testemunhada nesta play deve-se a uma certa elfa, de lindos cabelos ruivos, cuja alcunha remete à força das linhas do céu. Aurorah é uma moça que me confundiu e talvez tenha confundido o próprio JonJon. Mas dela falarei mais tarde. O que importa agora é dizer que ela é fundamental nas nossas vidas e no nosso grupo.

                Ao meu amado JonJon, minha gratidão, meu carinho e meu amor por ser o que é e por me dar tanto de si em todos os momentos.


                Pexis Pexis, o aparente maluco desconexo que enxerga mais longe do que todos nós. Poucas vezes na vida senti tanta afinidade e entendimento com alguém como sinto com esse irmão querido, de citações filosóficas, quase incompreensíveia à maioria dos mortais. Por que eu o entendo? Não é por atingir semelhança com sua mente brilhante, mas por sentir as palavras que não possuem tradução. Nossos olhares não necessitam do léxico, mas nem por isso são menos cúmplices.

                Ao meu irmão de alma Pexis, minha admiração e meu amor incondicional; minha gratidão ao Universo por ter me permitido esse encontro nesta existência e neste grupo.



Ode à ausência



Esta play de outubro foi bastante marcante para mim por alguns motivos pontuais, os quais pretendo descrever em posts separados. Tenho muito a dizer... sobretudo a mim mesma. São análises que ainda permanecem fervendo na mente. E decidi, então, começar pelas ausências.

Algumas pessoas foram sentidas na presença e outras na ausência. A mim, especificamente, foram cruciais as ausências dos meus irmãos Cosmo_Vain e Parallax. O primeiro porque é meu cúmplice dentro e fora do BDSM e sua energia é quase vital para mim; o segundo, porque é o Imperador do grupo. E como fica uma Imperatriz sem o Imperador?

Também senti muita falta da Jeh, a sub mais completa que já conheci na vida e uma pessoa que prezo na essência; do bousfieldy, o bottom mais bottom do grupo e o vencedor do troféu ‘guerreiro play julho 2011’; da MistressAmanda, minha sister afastada cuja autoridade está no olhar e ética está em cada gesto e palavra; e do meu mestre bondagista ACM que, por problemas pessoais, não pode comparecer. Dele nem me atrevo a dizer nada agora porque seria tudo redundante ou simples demais diante de tanto talento, generosidade e sabedoria.

A dança das cadeiras rodou e é lindo ver a vida girando e se acomodando conforme as boas intenções e as oportunidades de aprendizado.

Aos presentes na play de 14 a 16 de outubro de 2011, meu muito obrigada nesta abertura de post especiais sobre o evento. Aos ausentes, meu sentimento de ausência e minha saudade...


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Parábola do inverso



- “Quantas vezes já te disse que morra?”
                Todos os dias era assim que ela respondia aos apelos do pobre rapaz insistente, sedento por uma migalha de atenção da rainha de seus sonhos. Redes sociais, sms, e-mails e até cartas ele arriscou usar para ter uma única chance com aquele poço de arrogância que despertava tanta repulsa na maioria das pessoas.


                Permitam-me apresentá-la antes dos pormenores. Natasha era estranha. Não havia melhor palavra para ela. Apesar dos traços suaves vindos da descendência europeia em harmonia com a herança cigana, vestia-se de forma inadequada para uma professora. Os cabelos mudavam de cor frequentemente, assim como as unhas que ostentavam as cores mais bizarras que poderiam existir.

                Em meio à maquiagem e aos acessórios exóticos, Natasha tentava esconder o lado negro da sua natureza. Desde cedo, seu maior prazer era provocar a dor. Não a dor física – esta lhe provocava a graça -, mas a dor moral. Nada lhe fazia mais plena do que trazer à tona os maiores flagelos da alma de quem se submetia aos seus caprichos.

                Era sempre a mesma ladainha. No início, buscavam o chicote e a adoração. Ela aceitava quase piedosa, com alta dose de generosidade. Chegava a ter candura nos olhos. Aos poucos, quando ganhava terreno, tomava conta da alma submissa das suas vítimas. Os flagelos eram muitos; variavam da sensação de impotência à vitimização extrema. Os que antes eram belos homens se tornavam verdadeiros trapos dependentes dos seus carinhos e dos seus conselhos.

                Até que um dia aquele servo que tanto implorava por uma chance de se acorrentar ao inusitado parou de procurá-la. Tão acostumada que estava com os galanteios e insistências, Natasha estranhou. Logo ela, que carregava no nome o código gélido de quem não admite ser interrompida em suas intenções, ainda que aparentemente disfarçadas de recusas. Natashas já são críticas por demais com si mesmas e com os outros...

                Estranhou. Talvez ela nem fosse tão estranha, mas os outros lhe 'pintavam' assim. Passou a olhar diariamente os mesmos locais onde ele costumava deixar suas súplicas. Não mais apareceu. Nem uma palavra. Nenhum “Senhora”, “Rainha” ou Deusa”. Muito menos um “por favor”. Passaram-se algumas semanas e ela já estava perdendo a noção das suas rédeas com os demais, aflita por alguém desistir dela sem mesmo tocá-la.

                Quando reapareceu, já ousava chamá-la por Natasha. Tornou-se um espelho de suas fragilidades. Cada vez que ela lia “Natasha” sem a presença do símbolo mor da “Rainha”, seu sangue gelava; os argumentos eram perdidos; o autocontrole se esvaia sem muitas explicações.

                E sucessivamente a conversa amadureceu despindo o ego da provocação; dando lugar ao profundo, onde não mais residia o prazer. E quem se machucava agora era ela, num ímpeto de masoquismo antes adormecido. Para sobreviver, ela passou a reencontrar velhos caminhos, na esperança de ver novamente o semblante de Rainha no espelho da emoção.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Breve nota sobre lágrimas e gérberas

Parece que um véu escondeu este conto dos meus olhos por todos estes meses, mas agora eu o reproduzo cheia de mim, do fundo do meu coração... By Jonatan Strange


Devia ser agosto, quase setembro, não lembro. Ela era um heterônimo, uma distorção da própria volúpia. Avisou, sem muito explicar, que estaria de branco, cheia de odores do mundo e de outros lugares. Não foi difícil entender do que se tratava. Sexta-feira, lua alta, cheiros de arruda e cachimbo. Quem é de banda, é de banda. Quem não é...
Cabelo vermelho, olhos claros e pele extremamente branca. De tímida, passava longe, mas reparei o como media as palavras, os gestos e a postura. Laura, Wanda, ou seja lá qual for o nome dela, ela era apenas desejo.
Busquei ela num lugar que eu bem conhecia, ou talvez o lugar me conhecesse. Várias esquinas e encruzilhadas que dão em lugar algum. Entrou no carro. Beijo na face e sorriso de canto. Ela indica o caminho do seu apartamento. Subimos. Ela pede para tomar um banho e me oferece a sua cama. Eu sento, zapeio os canais da TV. Pornô, pornô, pornô, futebol, noticiário. Pornô e mais pornô. Parece até programação de motel. Sugestivo.
Ela sai do banho, toalha enrolada no corpo e outra no cabelo. Vi a toalha de cima manchada, tinta no cabelo.

- É, sempre acabo manchando as coisas com o cabelo.

Senta do meu lado, e sem a mínima cerimônia confere o volume da minha calça. Curta e determinada. Mostrou a que veio. Se aproxima, beijo no pescoço. Em contraponto, misturo minha mão esquerda em seus cabelos molhados. Puxo um tanto, afastando o rosto para um tapa. Mal armei a mão, e ela já solta sem respirar.

- Não gosto de tapa na cara. É uma total falta de respeito para mim.

Menos alguns graus no ângulo da minha ereção. Eu realmente gosto de dar tapas na cara. Não é a dor, e sim o ataque moral. Romper a fronte, simples assim.
O mesmo problema, corpos novos são sempre estranhos. Mesmo que o tesão seja extremamente alto, gozar não é objetivo do primeiro coito. É sempre conhecer a intensidade do outro, os gemidos e movimentos. Primeiras fodas são quase artificiais.
Depois de algum suor, perguntei se podia me dar de beber. O de fumar, eu já tinha. Fui na sala e olhei a mesa. Ferro, linda, muito bem trabalhada. Devia ser um tanto pesada. As cadeiras eram no mesmo estilo. Sentei, pedi fogo. Ela não se importou que eu fumasse. Falei o quanto era novo o maldito vício. Olhei para o vaso de flores na mesa. Gérberas muito bonitas.

- São as minhas preferidas - disse ela.

Naquele momento tive um grande dejà-vu, sabendo que tantos outros momentos como aquele eu teria.


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A construção do imaginário



Neste pequeno breviário vou me referir aos dominadores, sobretudo a alguns muitos famosos no nosso meio. Em conversas com alguns amigos do grupo SAT BDSM, e outros sem grupo e de outros grupos, percebi como a construção do imaginário é algo complexo dentro e fora do meio.

No meu estudo, onde recortei um grupo e uma classe de fetichistas, fica explícita, pelas próprias leituras de Sade, Masoch, Bataille, Morin, Millet, Pietroforte, Stanton, Grillet e tantos outros, a percepção de que tudo começa num sonho que pode ou não virar uma fantasia, bem ou mal resolvida na cabeça das pessoas. No geral, todos têm fantasias. Alguns sufocam e outros resolvem assumir.

Óbvio que não vou fazer apologia aqui. O mundo não é BDSM. Não acredito nisso. São tipos de fantasias muito específicas que podem se tornar realidade. Mas acredito sim que todos têm um lado B. Sempre falo isso porque observo o quanto isso sufoca e atrapalha a vida prática das pessoas que se podam.
E construir um perfil dominador coloca para fora os sonhos mais remotos, desde os super-heróis que habitaram a nossa infância; o pai que era o Máximo; uma paixão por mitologia e seres com muitos poderes; a sensação de ser adorado e venerado pelo clubinho do bairro; as brincadeiras com os colegas envolvendo as cordas, as vendas e as mordaças; as privações de sentidos envolvendo ar, água, terra, fogo; o polícia e ladrão; os comandados e os comandantes. E por aí vai. A psicologia está cheia de exemplos e links entre essas construções.

Conversando com um ex-sub muito querido, concluímos que pessoas como Sr. Verdugo, Sr. WZ, ACM, Metatron, Parallax, JonatanStrange, MistressBela, Mistress Belle, Rainha Laura e tantos outros dominadores – e me incluo na lista – nem sempre passam uma imagem fiel acerca de suas personalidades. Os motivos, francamente não sei. Mas tenho duas hipóteses: a primeira diz respeito ao imaginário dos submissos que se apegam às fotos, às descrições que estão em suas mentes sobre dominadores, sádicos e figuras do SM idealizadas; a segunda é a força das personagens criadas por cada um de nós propositalmente e, neste sentido, acho até saudável esse distanciamento porque aumenta o interesse e o tesão.

É freqüente ouvir de submissos, masocas e até de dominadores menos experientes uma certa idolatria para alguns desses nomes. Não que eles não mereçam; pelo contrário. Cada um nas suas especialidades merece toda fama e elogios que possam ser endereçados a eles. São pessoas que ajudaram a divulgar e desmistificar o BDSM em nível regional, nacional e até internacional.
Jade, por ACM-BoundBrazil

Mas pensar que Verdugo andará pelas ruas da cidade com um machado ou que sua vida se resume a planejar cenas com sangue a agulhas é até engraçado. Ou imaginar que WZ e ACM vivem com metros e metros de cordas a punho o tempo inteiro. Ou ainda, que Mistress Bela e Mistress Belle não fazem mais nada da vida do que cuidar dos seus mundos fetichistas e seus discípulos. Mais ainda, pensar que Parallax e JonatanStrange – ou mesmo eu – são pessoas más, sórdidas, que vivem planejando meios de derrubar os pobres iniciantes sulistas em armadilhas é patético. Já ouvi a seguinte frase sobre meu brother: “O Parallax deve ser muito malvado porque a cara dele é de poucos amigos”. Olha gente, se existe amizade real, ali está um belo exemplo! Claro que ele só é amigo de quem realmente sintoniza ou que enxerga verdade nas atitudes. E com ele faço meu coro, assim como garanto que a regra valha para todos do meio que tenham personalidade e caráter.

Há quem fique maravilhado porque vê em meu álbum as fotos com o ACM, assim como comentários carinhosos aqui no meu blog. Gente, ele é uma pessoa de carne e osso, tem sentimentos, simpatias e afinidades. Eu o amo e ele sabe disso. Logo, trata-se de uma relação normal de amizade. E ele nem é tão malvado assim...rs

E não escrevi tudo isso para criticar a construção desse imaginário, mas porque passei a admirar mais ainda essas pessoas, as quais acompanho o trabalho, as ideias, os blogs, algumas posturas e suas desenvolturas com seus instrumentos, sejam físicos ou psicológicos.

Também fiz meu devaneio em cima das conversas com meus queridos. Afinal, são eles que alimentam nossas vaidades, enchem nossas vidas de glamour e de planejamento para tarefas cada vez mais aprimoradas. Viva a prática e viva a diversidade dentro do SM. Meu respeito a todos os mestres e dominadores, e a todos os que se assumem submissos, masoquistas e switchers. Em meio a tudo isso, nem sempre é fácil se sentir com os pés no chão num universo tão fantástico e cheio de possibilidades.


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Arquétipos

O nosso grupo BDSM Santa Catarina tem ultrapassado fronteiras, o que nos obrigou - os seis fundadores que ainda permanecem - a criar algumas regras que assegurem o relacionamento saudável entre os membros. Por percebermos que, apesar de irmãos, somos um grupo bastante heterogêneo, notamos que praticamente todos os elementais e biotipos estão presentes entre nós. Por isso, também decidimos identificar cada membro desta irmandade - agora chamada de SAT BDSM - de acordo com um dos arcanos maiores do tarô.



A escolha foi feita levando em consideração os aspectos negativos e positivos de cada carta, as características e gostos pessoais dentro e fora do BDSM, a energia relacionada aos elementais de cada um e a posição que ocupam dentro do grupo.

Inicialmente algumas cartas remetem a análises negativas e outras a somente positivas. Não é verdade. Todos os arcanos possuem pontos a favor e contra. De acordo com o elemental de cada um, montamos uma descrição personalizada que pode definir melhor como é aquela peça dentro deste imenso jogo chamado BDSM.

Nossa pretensão não é sermos uma sociedade secreta, apenas delimitarmos nossas posições dentro de uma irmandade de forma original, já que boa parte de nós é ligado à espiritualidade ou totalmente mergulhado, como eu.

No grupo eu represento o arquétipo III - A Imperatriz:


"A Imperatriz carrega o poder da beleza e da riqueza. Arcano de realização, tem na sua mão o cetro do poder. Desconfiada, é prudente na entrega e aparece com um escudo para se proteger, pois na posição em que se encontra, atrai muita inveja. Sempre preocupada com os seus, é mandona, autoritária e gosta de ser reverenciada. Zela por suas posses assim com as dos demais. Justa e soberana, eventualmente aparece grávida, o que significa que há uma preparação, há um processo que ainda não está concluído. De temperamento errante, o seu reino é a razão e a comunicação, completos pelo arcano II - A Sacerdotisa. Não aceita seguir só a intuição e a emoção, que já possui bem aguçadas, uma vez que tem A Lua a seus pés. Como aspectos negativos, há nela um pouco de arrogância e vaidade pelas conquistas já feitas. Meticulosa, prima pela perfeição e pela lisura nas relações. Pode ter uma serpente e um baú de jóias de cada lado, simbolizando, respectivamente, a sabedoria e a riqueza"  

"Realizo os teus desejos em troca da tua adoração"

Disse Wanda a Severin, em A Vênus das Peles: "Foste tu que me inculcaste o egoísmo, o orgulho e a crueldade, e serás tu a primeira vítima. Agora sinto realmente prazer em ter sob meu poder e maltratar um homem que tem, como eu, pensamentos, desejos e vontades, um homem que é mais forte que eu, física e intelectualmente, e sobretudo um homem que me ama… Amas-me ainda?"

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Oferta de sonhos

Sempre pensei que os sonhos são nosso maior combustível de movimento. Só acreditamos, construímos, modificamos, lutamos, perseveramos e mudamos porque sonhamos. E como amo de paixão a semiótica, não poderia me furtar de apresentar nossas (minhas e do meu querido Kurumin) últimas fotos como signos de transformação.

Nos conhecemos sem grandes expectativas. Ele como sub e eu como domme, na época pensando estar aposentada. A energia e a troca foram boas. Viramos amigos. Ok, sempre amigos coloridos. Nunca passamos mais de três semanas sem nos tocarmos, fosse um beijo, fosse um arreto dentro do carro, fosse uma boa transa.

A dúvida acerca dos sentimentos estava mais na mente dele do que na minha. Na verdade, sempre soube que seria meu par, no mais amplo sentido da palavra. E não era porque me aquecia o coração e os lençóis; mas porque sentia que nossas energias eram complementares.

Quando decidimos assumir o namoro, ainda havia alguma coisa pendente na nossa trajetória. Nem nós mesmos sabíamos do que se tratava, até descobrirmos que o que realmente queríamos era nos tornarmos também domme e submisso de maneira permanente.

E como diz meu amigo e brother de BDSM, Parallax, ainda estou experimentando essa sensação, mas confesso ser um sonho realizado. E na simbologia deste sonho, nada melhor que a ideia dele de me trazer sonhos de padaria para que os pisasse, num dos fetiches que mais nos dá prazer: o crushing.


Ofereço-te meus sonhos em troca dos teus, para que sejamos plenitude no fetiche, no prazer e no amor!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

24/7


Este ano o meu 24 de Julho foi muito especial. Além de estar entre velhos amigos, conheci pessoas muito interessantes. Também tive o prazer de novamente ter sob o meu domínio os meus queridos pupilos MZ e Dudu.
Cheguei em Floripa na sexta-feira (22) quase meia-noite, após mais de 10 horas de viagem entre ônibus e dois aviões. JonJon, CherryLips e Cosmo_Vain já estavam me esperando. De lá fomos direto para a Praia do Rosa em comboio. No caminho encontramos Bousfieldy, Naivara, Mannddy, Shaila, Parallax e sua Jeh. Pexis e Dudu chegaram só no dia seguinte, logo após o MZ, Aurorah, Morgana e seu amigo de lindos olhos azuis.
A união foi fundamental para o sucesso da empreitada desde o começo. O local era uma pousada totalmente roots, com direito a inúmeras pinturas mediúnicas, com aquela atmosfera que só as praias do Sul catarinense têm.
Já postei meu balanço no Fetlife, em post específico sobre as impressões do encontro, mas preciso expressar aqui como me senti abençoada em poder estar com aquele grupo numa data tão especial para quem vive o seu lado B sem pudores.
Começo pelos que não conhecia. A Mannddy é uma gracinha. Linda, muito mais até do que nas fotos; demonstrou humildade e espírito de grupo. Confesso que me surpreendi positivamente, ao contrário da impressão anterior que havia tido por conta de alguns rolos que, agora, não vêm mais ao caso.
A Naivara é uma promessa no SM catarinense. Decidida, cheia de personalidade e com olhos de fetiche, ela certamente ainda fará muitos corações tremerem por aí...
A Shaila me deu algumas lições de convivência e conduta com meus próprio subs; além de me fazer refletir sobre conceitos que já carregava comigo.
A Jeh é um dos mais belos exemplos de entrega que já presenciei na vida, com a condução impecável do Parallax. Ambos, para mim, são atualmente o casal modelo 24/7 no melhor conceito de uma relação de sucesso.
O trio Aurorah, Morgana e menino-bonito-do-olho-azul me trouxe boas impressões de coisas legais que ainda vão acontecer, seja no sentido teórico, quanto prático.
Agora os já conhecidos:
Sobre Bousfieldy, só tenho a elogiar sua performance e sua resistência, além daquela incógnita no olhar que sempre me encantou. Sobre CherryLips, é até difícil descrever sua doçura; foi um incrível prazer ter aquele abraço novamente. Pexis é o cara mais incrível em termos de ideias neste meio. Em nenhum lugar do mundo eu conheci alguém sim, o que me faz ser fã incondicional dele e exigir sua presença sempre!
JonJon, meu amor, meu amigo querido, meu babyboy, tua postura final me encheu de orgulho e tua dedicação à organização e coordenação do evento foi fundamental para que tudo tivesse acontecido.
MZ, meu querido e eterno submisso, nem tenho como expressar a luz que tu trouxeste pro meu coração. Quando avistei os longos e prateados cabelos, foi como se tivesse mais certeza que ficaria feliz. Dudu, meu diamante bruto, sei que o caminho ainda é longo, mas teus passos têm sido firmes e foi extremamente gratificante para mim - não só para o ego, mas muito além disso - ver que nossa cumplicidade e nossa energia continuam as mesmas, quiçá melhores ainda.
O Cosmo_Vain? Bem... é o ápice do meu sentimento de dominação personificado. A troca de sensações e a sintonia não poderiam ser mais perfeitas. Aliás, como sempre acontece nas nossas loucuras, sejam simples ou complexas.
Enfim, quero terminar esse post com meus agradecimentos aos céus por ter sido abençoada com essa oportunidade de participar deste evento e com uma singela homenagem ao meu casal-símbolo do 24/7, Parallax e Jeh. Num momento pré-almoço de domingo, olhei para ambos conversando descontraidamente e este poema me veio à mente. Tive a impressão de que Vinícius os conheceu:

"De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do meu amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."

domingo, 17 de julho de 2011

A brincadeira

Na minha cabeça, BDSM é e sempre foi brincadeira de adultos e só pode ser bacana em curto, médio e longo prazo se existir respeito e responsabilidade do começo ao fim.

Não vale, no meu entender, burlar ou trair as regras estabelecidas na etiqueta geral, nos grupos dos quais se faz parte e entre os envolvidos. No máximo uma contestação bem argumentada para adaptações que devem ser feitas em concordância.

Vale muito respeitar o outro, sua imagem, suas ideias e principalmente seus sentimentos. Vale muito ter ética, ser leal, ser justo e contribuir para a manutenção da confiança. Vale conversar, dialogar (no mais amplo sentido da palavra) e ser verdadeiro. Vale sempre ser honesto, pelo riso ou pelo choro, pelo prazer ou pelo desgosto.

Entendo o BDSM como algo que acrescenta; nunca que denigra, que ofenda, que maltrate (no pior sentido da palavra, com perdão aos sádicos, quando não há concessão), que não seja SSC. O que for diferente disso pode ter qualquer nome, menos BDSM. E lamento quem me ache arrogante, quadrada, antiquada. Sempre conduzi as coisas assim, é dessa forma que aprendi e é assim que sempre encontrei soluções para os problemas que eventualmente surgiram, de forma amigável, gerando belas amizades.

É certo que relacionamentos são relacionamentos, não importa o tipo ou natureza. Gente tosca, ignorante, mentirosa e traiçoeira existe em qualquer lugar. Mas me reservo o direito de classificar como praticantes do BDSM apenas aqueles que se enquadram nesses parâmetros.

Neste contexto, hoje tive dois bons exemplos de pessoas bem diferentes, mas que são verdadeiras consigo mesmas e com os parâmetros da 'brincadeira': MistressBelle, do Espírito Santo, e Pexis, meu amigo filósofo, de Floripa.

E mais uma vez minha veia de professora fala mais alto...kkkkkkkkkkkkkkkk... Adoro!

Beijos da Vulgata


Meu novo brinquedo personalizado pela doce e talentosa Pekena, do Kadar

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Um jeito diferente de ser submisso

Essa vida da gente, sempre nos surpreendendo. Não que eu não soubesse dos gostos do meu querido, mas não imaginava que poderia obter tanta dedicação e que eu mesma começasse a sentir prazer em algumas ideias sugeridas por ele.
É tão bom viver a cumplicidade e conseguir aliar o fetiche ao companheirismo. Sinto que dei um passo adiante na minha vida fetichista, na minha existência como um todo. Afinal, a plenitude sexual não é mera diversão; faz parte da satisfação do ser humano que busca a felicidade em todos os campos da vida.
Sinto-me feliz, satisfeita e espero que seja apenas o começo de uma longa jornada de aprendizado mútuo para ambos, com muito amor e com o bônus do conhecimento do que e de como cada um gosta.

E aliado a isso, estar trabalhando com o meu amigo e mestre ACM no seu novo longa metragem tem sido um grande prazer e uma grande honra para mim. Taí outra história que pretendo que tenha vida longa, reservando ainda muitos prazeres para ambos e para vocês também! Aguardem novidades...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Obrigada pelo carinho


Recebi este selo do Senhor Etrom, do blog Senhor Etrom e do portal BDSM-DF.

Pelo que li e pela opinião de outras pessoas que respeito muito no meio, fico mais lisonjeada ainda por ter este espaço considerado um local de boas ideias.

Volte sempre!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sorvete de creme


Ela queria um sorvete com calda de chocolate e bastante chantilly, bem ao estilo colegial. Talvez sua pureza a denunciasse nos pequenos gestos como o gosto pela sobremesa de infância.
O estranho é que ele adorava aquele sorvete, mas para contrariá-la ou reforçar suas rédeas, resolveu pedir a taça com maçãs cozidas. Engraçado. Em anos jamais o ouvi mencionar maçãs cozidas como um gosto particular. Enfim...
A dominação tem dessas coisas. Há que se fazer contrariedades aos submetidos pelo desprazer da liberdade. Estranho. Eu jamais pensei que cercear fosse sinônimo de dominar, mas há quem discorde de mim e esse coro ganhou a força de alguém especial aos meus olhos e ao meu coração. Respeito. Ponto.

Nas colheradas lentas daquele sorvete pude observar como sou marciana diante deste mundo bedeessemista. Eu apreciei o meu sorvete ao lado de Cosmo, porque a ele não devo nada além do olhar cúmplice. E nem sei bem se a palavra é dever, só sei que o aprendizado é ao mesmo tempo belo e reflexivo.
Não se trata de crítica. Trata-se de observação de algo em que já estive submersa e que hoje me causa espanto quando vejo tão cruamente diante de mim. Talvez porque ao contrário dele, eu jamais planejei nada. Fui sempre impulsiva, improvisada, visceral. E talvez esteja aí o brilho dos olhos que eu senti falta, embora a beleza mesmo assim esteja radiante.
Sabes que te amo, né?

* Este texto é um pequeno mimo ao meu babyboy JonJon e sua CherryLips

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O mito da vida dupla *


Well well, de acordo com os próprios gregos, criadores do conceito de “mito”, este está ligado ao rito. Ou seja, o mito da vida dupla que quase todos os praticantes do sadomasoquismo vivem não pode ser separado do caráter simbólico, levando em consideração que um mito procura explicar a realidade, os fenômenos naturais, as origens de um comportamento e por aí vai. Ok, tem muito de pesquisa via world wide web, mas também há muito das minhas leituras e do meu empirismo aqui.

Ao mito está associado o rito. Ponto. “O rito é o modo de se pôr em ação o mito na vida do homem - em cerimônias, danças, orações e sacrifícios” (Wikipédia). Sacrifícios? O que é sacrifício para um dominador e para um submisso? E respeitando a liturgia, para um sádico ou para um masoquista?

Poderia fazer um longo apanhado aqui em cima de Kant, quando fala da fragilidade feminina e da ausência da capacidade de sublimação dos sentimentos em nome do prazer. Para o filósofo, a moralidade social, apartada entre homens e mulheres, explicaria os comportamentos de vida dupla e, talvez, pudessem ser justapostos aos conceitos que norteiam o BDSM e seus praticantes auto rotulados em personagens.

Já Sade, via Bataille, afirma que “[...] sem um elemento de acaso, sem capricho o acontecimento, não teria o mesmo alcance” (é por isso que ele é símbolo, por isso ele difere de fórmulas abstratas)” (BATAILLE, 1989, p.96). O lugar da soberania de Kant está no “Soberano Bem da ética filosófica” e a de Sade na soberania do arrebatamento? Talvez e é uma hipótese já levantada pela professora Elizabeth Bittencourt, da Universidade Federal do Paraná, membro da Sociedade de Psicanálise aqui do Rio.

Na prática, meus queridos, mesmo diante de tantos respaldos teóricos e práticos, cada um sabe bem o porquê de seus personagens, por mais marginais, ordinários e infantis que possam parecer. A vida dupla dentro do BDSM é quase uma praxe que protege seus praticantes de si mesmos e às suas sanidades. E não estou querendo dizer que quem assume seu lado B é maluco ou necessariamente tem tendência a distúrbios mentais. Estou querendo dizer que a sociedade ainda é muito hipócrita e suficientemente cruel para colocar em “parafuso” alguém que se expõe em seus dois mundos como que exibindo figurinos distintos.

E para quem acha que tudo isso é uma bobagem, eis Fernando Pessoa:
  
“O mito é o nada que é tudo.
 O mesmo sol que abre os céus
 É um mito brilhante e mudo.”


* Publicado originalmente no blog Literatura BDSM