quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A construção do imaginário



Neste pequeno breviário vou me referir aos dominadores, sobretudo a alguns muitos famosos no nosso meio. Em conversas com alguns amigos do grupo SAT BDSM, e outros sem grupo e de outros grupos, percebi como a construção do imaginário é algo complexo dentro e fora do meio.

No meu estudo, onde recortei um grupo e uma classe de fetichistas, fica explícita, pelas próprias leituras de Sade, Masoch, Bataille, Morin, Millet, Pietroforte, Stanton, Grillet e tantos outros, a percepção de que tudo começa num sonho que pode ou não virar uma fantasia, bem ou mal resolvida na cabeça das pessoas. No geral, todos têm fantasias. Alguns sufocam e outros resolvem assumir.

Óbvio que não vou fazer apologia aqui. O mundo não é BDSM. Não acredito nisso. São tipos de fantasias muito específicas que podem se tornar realidade. Mas acredito sim que todos têm um lado B. Sempre falo isso porque observo o quanto isso sufoca e atrapalha a vida prática das pessoas que se podam.
E construir um perfil dominador coloca para fora os sonhos mais remotos, desde os super-heróis que habitaram a nossa infância; o pai que era o Máximo; uma paixão por mitologia e seres com muitos poderes; a sensação de ser adorado e venerado pelo clubinho do bairro; as brincadeiras com os colegas envolvendo as cordas, as vendas e as mordaças; as privações de sentidos envolvendo ar, água, terra, fogo; o polícia e ladrão; os comandados e os comandantes. E por aí vai. A psicologia está cheia de exemplos e links entre essas construções.

Conversando com um ex-sub muito querido, concluímos que pessoas como Sr. Verdugo, Sr. WZ, ACM, Metatron, Parallax, JonatanStrange, MistressBela, Mistress Belle, Rainha Laura e tantos outros dominadores – e me incluo na lista – nem sempre passam uma imagem fiel acerca de suas personalidades. Os motivos, francamente não sei. Mas tenho duas hipóteses: a primeira diz respeito ao imaginário dos submissos que se apegam às fotos, às descrições que estão em suas mentes sobre dominadores, sádicos e figuras do SM idealizadas; a segunda é a força das personagens criadas por cada um de nós propositalmente e, neste sentido, acho até saudável esse distanciamento porque aumenta o interesse e o tesão.

É freqüente ouvir de submissos, masocas e até de dominadores menos experientes uma certa idolatria para alguns desses nomes. Não que eles não mereçam; pelo contrário. Cada um nas suas especialidades merece toda fama e elogios que possam ser endereçados a eles. São pessoas que ajudaram a divulgar e desmistificar o BDSM em nível regional, nacional e até internacional.
Jade, por ACM-BoundBrazil

Mas pensar que Verdugo andará pelas ruas da cidade com um machado ou que sua vida se resume a planejar cenas com sangue a agulhas é até engraçado. Ou imaginar que WZ e ACM vivem com metros e metros de cordas a punho o tempo inteiro. Ou ainda, que Mistress Bela e Mistress Belle não fazem mais nada da vida do que cuidar dos seus mundos fetichistas e seus discípulos. Mais ainda, pensar que Parallax e JonatanStrange – ou mesmo eu – são pessoas más, sórdidas, que vivem planejando meios de derrubar os pobres iniciantes sulistas em armadilhas é patético. Já ouvi a seguinte frase sobre meu brother: “O Parallax deve ser muito malvado porque a cara dele é de poucos amigos”. Olha gente, se existe amizade real, ali está um belo exemplo! Claro que ele só é amigo de quem realmente sintoniza ou que enxerga verdade nas atitudes. E com ele faço meu coro, assim como garanto que a regra valha para todos do meio que tenham personalidade e caráter.

Há quem fique maravilhado porque vê em meu álbum as fotos com o ACM, assim como comentários carinhosos aqui no meu blog. Gente, ele é uma pessoa de carne e osso, tem sentimentos, simpatias e afinidades. Eu o amo e ele sabe disso. Logo, trata-se de uma relação normal de amizade. E ele nem é tão malvado assim...rs

E não escrevi tudo isso para criticar a construção desse imaginário, mas porque passei a admirar mais ainda essas pessoas, as quais acompanho o trabalho, as ideias, os blogs, algumas posturas e suas desenvolturas com seus instrumentos, sejam físicos ou psicológicos.

Também fiz meu devaneio em cima das conversas com meus queridos. Afinal, são eles que alimentam nossas vaidades, enchem nossas vidas de glamour e de planejamento para tarefas cada vez mais aprimoradas. Viva a prática e viva a diversidade dentro do SM. Meu respeito a todos os mestres e dominadores, e a todos os que se assumem submissos, masoquistas e switchers. Em meio a tudo isso, nem sempre é fácil se sentir com os pés no chão num universo tão fantástico e cheio de possibilidades.