sexta-feira, 24 de julho de 2009

Parabéns por viver seu lado B!***

Foi assim que eu felicitei os meus colegas de twitter praticantes do BDSM hoje. Ok, datas comemorativas são meros pretextos pra várias coisas, porém eu tenho a visão que sempre servem para nos lembrar da importância do motivo que "reserva" aquele momento especial de reflexão. Por que hoje? Dia 24/7...

Vivenciar uma relação BDSM 24 horas, 7 dias da semana é o que muitos adeptos têm como o supra-sumo de uma relação entre dominador e submisso, por isso é escolhida a data 24/7 (leia-se vinte e quatro por sete). Uma relação assim significa que o (a) submisso (a) fica completamente à disposição da dominatrix (ou dominador). Em contrapartida, a domme (ou dom) precisa ampliar o seu repertório para que a prática não caia na rotina - assim como todo casal normal.

Na prática e em minha opinião, o BDSM 24/7 é utópico, mesmo nos moldes de consensualidade. Não porque seja crime, como alguns blogs publicaram hoje...(tsc tsc), mas porque somos bichos sociais e é impossível ter uma relação assim a não ser que convivamos apenas com praticantes do BDSM ou com pessoas completamente livres de preconceitos (o que, convenhamos, não seriam bem humanos, se assim fossem). Além disso, muitas relações BDSM plenas, como é o meu caso, possuem alguns impedimentos como tempo, estado civil e distância. E antes que atirem mil pedras na Mistress aqui, estou apenas sendo franca e expondo minha visão da coisa, com o mínimo de hipocrisia - proposta deste blog desde o início.


Sadomasoquistas não são menos nem mais do que ninguém, não são melhores ou piores, são diferentes, no sentido de serem diferenciados na sociedade que vivemos. A dita sociedade não compreende o que se passa na cabeça de alguém que gosta de apanhar ou que gosta de bater, e por isso, acaba pré-conceituando o sujeito de forma errônea. Por isso, muitos acabam escondendo seus fetiches, suas vontades sob calabouços e porões íntimos por temerem o fantasma do pensamento alheio.


E como é o dia do BDSM, com encontros nas principais capitais, muitos eventos e escritos, não poderia me furtar (nem permitir ao meu Montrinho que se furtasse) a dar os parabéns a todos aqueles que vivem o seu lado B sem medos. Todos passaram por períodos difíceis, com certeza nos questionamos em algum momento sobre nossa normalidade, sexualidade, etc; alguns ainda não tiveram o prazer de ter uma relação SM mais duradoura, onde a tão sonhada confiança e intimidade aconteça; mas certamente merecemos respeito e felicitações pela coragem de viver o fetiche, parte considerada obscura de nossas almas por alguns, mas que nos abre as portas para um "eu" real, sem máscaras (a não ser as que fazem parte da cena), sem pudores, sem condenação.


Sadomasoquistas do mundo usem desta data para mostrar a todos ao seu redor que existe muita coisa além do que conhecemos, de que não existe nada de errado em ter fetiches, ser masoquista ou sádico. Seja sério, sensato e deposite pitadas se curiosidades nas pessoas sobre o assunto; fale, viva, mostre o que realmente é e o que não é, desmistificando o assunto e quebrando tabus intrínsecos nas pessoas e as imagens distorcidas que a nossa anestesiante televisão mostra por muitas vezes.


Aceitem-se e vivam seus fetiches com todo o prazer que eles podem e devem proporcionar, seja no comando, seja na dor, seja em ambos. E faça com que esta data seja somente uma lembrança de velhos tempos e que logo, falar e praticar BDSM, Sadomasoquismo, Fetiche ou coisas assim seja tão normal quanto usar sapato.

*** Obrigada ao meu Monstrinho pela contribuição de idéias e letras...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Desenhos pelo corpo

Cerveja, fim de noite, companhia dos amigos, uma sobremesa com chocolate bem melecado, lambuzado.

O combinado com um dos amigos havia sido feito ainda no início da semana. Há tempos não tomávamos uma; muitos devaneios a compartilhar.




Junto com ele, um estranho, quase bizarro, com o corpo todo tatuado, olhar profundo, grandes lábios, atitude provocativa de todos os nascidos sob o primeiro signo do zodíaco, misturada a uma quase enternecedora timidez.

Simpáticos e receptivos como sempre, acolhemos a nova "figura" com bom humor e a tradicional pitada de malícia que faz de mim e do Cosmo a dupla preferida de conversas pervertidas da Trindade.

Eu era apenas eu, uma mulher despachada, mas na minha minha. Comum até certo ponto. Nada de Lady Vulgata, por enquanto. Até que uma saída de 20 minutos revelou a minha identidade.

Ao voltar, notei que os olhares da mesa mudaram. Fui acompanhada no balançar das cadeiras até novamente me sentar. Um tanto tímida, notei a proposta no olhar de Cosmo (o delator). Ok, agora o estranho sabia da minha identidade secreta. Que fazer? Nada que me exigisse. Apenas fazer jus a personagem que tanto prazer me traz.

Cavou toda a ousadia que existia dentro do seu ser e se convidou para tomar mais uma cerveja na minha casa. Aceitei. Sabia que, antes de mais nada, estava curioso para saber mais dos seus próprios limites.

Estava cansada, confesso, porém preferi confiar na minha intuição e no faro de Cosmo - sempre excelente olho para perversões e conselheiro de boas trepadas. Não me arrependi. Pelo contrário, me surpreendi!

As únicas coisa da Lady que ele obteve, além de cordas num bondage simples, vendas e umas leves batidas de chicote vermelho, foi o olhar autoritário e a lascívia dominatrix. Em todo o resto, fui eu mesma, na essência de mulher voraz.

Me pegou de todas as formas, me virou, me penetrou todos os orifícios possíveis, me abraçou, me possuiu, se entregou, se abriu ao meu mundo naquele instante infinito. Um maravilhoso e invejável instrumento ele tem, é verdade, mas a atitude é sempre o que decide nessas horas. E uma boa pegada, qual mulher não gosta???

- Entendo um pouco de nós. Fui marinheiro
- É? Então se solte, vendado, e venha me comer...

Desmanchou parte dos nós com os dentes e o resto com a tal habilidade de marinheiro, conhecedor de nós!

Com toda autoridade que lhe concede a influência do signo, examinou meu peircing e as tatuagens. Olhou muito da minha intimidade e partilhou da maior delas: o sono! Pouco, mas suficiente para nos dar forças para a dança da manhã, equivalente a muitas cestas de chocolate!

Os desenhos do corpo do delicioso estranho ficaram, em parte, tatuados nos meus lençóis...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Feromônios virtuais


Certa vez, num desses almoços cotidianos, uma nova amiga querida soltou uma frase que corrobora um pensamento antigo meu: os homens nos seguem pelo cheiro.

Pois pois, me questiono sobre isso há tempos, sobretudo quando penso nas relações virtuais...

- Mesmo quando eu brinco, eu falo sério
- E se eu te disser que também senti algo estranho aquele dia na despedida?

Esse algo estranho foi nada mais que um beijinho "bobo", daqueles que a gente erra a bochecha de propósito. Mas rendeu...

E vem rendendo graças aos feromônios virtuais. Ora, nosso objeto de escolha (porque somos nós mulheres quem escolhemos, no caso de uma relação hetero) nem sempre pode sentir nosso cheiro com as narinas, mas sente nossa ardência, ainda que por palavras mascaradas via msn, skype, twitter ou qualquer outro meio virtual!

Suspeito que os feromônios virtuais realmente existam e por conta deles sejamos atraídas ao pecado (ooooohhhhhhh) constante, deliciosamente proibido. Agora resta saber como eles se propagam, por que caminhos se dissipam, qual o algoritmo que os traduz.

O dia em que um vivente descobrir esta fórmula terá consigo a chave de muitas portas femininas preciosas, muitas delas escondidas sob avatares medíocres diante de seus potenciais e beleza.

A nós, simples mulheres mortais, donas de si e das suas vontades, ainda dependemos daquela parte que fica entre os olhos, acima da boca. Claro, com generosas pitadas de repertório gestual e palavras bem colocadas, muita carne, lábios e unhas vermelhas, cabelos bem tratados, um belo decote... e pé no chão! ;-)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Poema do amor falso*

Não quero uma mulher que seja gorda ou magra, ou alta ou baixa, ou isto e aquilo.
Não quero uma mulher, mas sim um porto, uma esquina onde virar a vida e olhá-la de dentro para fora.
Não espero uma mulher, mas um barco que me navegue, uma tempestade que me aflija, uma sensualidade que me altere, uma serenidade que me nine.
Não sonho uma mulher, mas um grito de prazer saindo da boca pendurada no rosto emoldurado, no corpo que se apóie, nas pernas que me abracem.
Não sonho nem espero nem quero uma mulher, mas exijo aos meus devaneios que encontrem a única que quero sonho e espero. Não uma, mas ela.
E sei onde se esconde. E conheço-lhe as senhas que a definem. O sexo ardente, a volúpia estridente, a carência do espasmo, o amor com o dedo no gatilho.

Só quero essa mulher, com todos seus desertos, onde descansar a minha pele exausta e a minha boca sedenta, e a minha vontade faminta, e a minha urgência aflita, e a minha lágrima austera... e a minha ternura eloqüente.
Sim, essa mulher que me excite os vinte e nove sentidos, a única a saber o que dizer, como fazer, quando parar, onde esperar.
Essa a mulher que espero e não espero, que quero e não quero; essa mulherportoesquina que desejo e não desejo que outro a tenha.

Que seja alta ou baixa, isto ou aquilo, mas que seja ela, aquela que seja minha e eu seja dela. Que seja eu e ela. Eu ela eu lá nela. Que sejamos ela.
E eu então terei encontrado A mulher que não procuro, o barco, a esquina, Você. Sim, você, que espreita do outro lado da esquina, no cais, a chegada do marinheiro, como quem apenas me espera.
Então nos amarraremos sem vergonha à luz dos holofotes dos teus olhos e procriaremos gritos e gemidos que iluminarão todas as esquinas.
Será o momento de dizer: Achei/achamos, amei/amamos e por primeira vez vocalizar o Somos, pluralizando-nos na emoção do encontro.

Essa a mulher que não procuro nem espero. Você, viu? Você!

* Publicado originalmente no blog http://contosdapersonagem.blogspot.com
em 13 de Novembro de 2007