sexta-feira, 29 de março de 2013

Crueldade



                Deixar um amigo ir embora quando está triste, sem rumo. Ou pior, abandonar um amigo moribundo, doente da carne e do espírito porque ele se recusa a aceitar ajuda. Crueldade! Certo que é!
                Maltratar teu amor com palavras e gestos. Obrigar teu amor a presenciar cenas chocantes, expor cada pedacinho da sua alma à degradação. Bater no homem ou na mulher amada; ferir, deixar marcas no corpo, na emoção. Crueldade, óbvio!
                Punir a filha porque ela usou a maquiagem após ter falado mil vezes que ela não deveria se aproximar do que é fragilmente teu. Privar a menina de assistir televisão porque ela desprezou um presente, fazendo comparações com o que as colegas da escola possuem. Falar a verdade para seu filho acerca dos limites e deixar claro que não é porque tu és a mãe que ele pode se sentir dono de tudo que é teu ou terá trânsito livre na tua vida. Sentenças que arrancaram lágrimas, sofrimento. Ou seja, crueldade!
                Todas as situações descritas parecem axiomas de crueldade, mas na verdade dependem da ótica de quem observa porque, assim como o trajeto cotidiano, tudo depende de contexto. Prisma. Assim é o BDSM.
               
Ontem num bar tentava explicar a alguns amigos como é a minha relação com meu marido e como ele gosta de ser humilhado. Eu dava exemplos e ele tentava descrever suas sensações. A reação das pessoas: surpresa, perplexidade. Se qualquer deles presenciasse a cena sem contexto me acharia a mulher mais cruel do mundo. Porém, não estou fazendo nada além de agradá-lo.
                Amar muitas vezes é fugir do contexto, se arriscar pelo prisma de ambos, independente do julgamento do mundo lá fora.
                Assim com educo minha filha para ser livre, independente e diferente de mim se assim ela quiser, vivo meu amor de acordo com o nosso prisma, felizmente compartilhado por alguns poucos doidos que nos rodeiam e muitos outros que não compreendem. O que parece crueldade para a maioria pode ser o prazer da minoria. O que parece unanimidade no romantismo, para pessoas como eu pode soar como tormento.
                Por isso o respeito é tão importante. Porque nem tudo compreendemos e não quer dizer que esteja certo ou errado. Apenas é.