sexta-feira, 12 de março de 2010

Sou infantil

Lembra que te disse que um dia me prometi que não ficaria mais de 12 horas triste com alguma coisa? Pois bem, vou cumprir essa promessa mais uma vez, mas antes vou escrever o que refleti. Talvez te sirva...

Hoje cheguei à conclusão que sou infantil. Sim sou muito infantil. Não posso dizer que sou ingênua porque muita água já passou por debaixo 'dessa ponte' e alguma malícia eu aprendi; porém mantenho meus olhos ingênuos diante das pessoas. Falo da minha vida como quem conta uma fábula sem se preocupar com o lúdico do outro. Falo falo falo... sem pudores, sem rancores, colocando todo o meu 'eu' sem artimanhas para obter isso ou aquilo. Dispo-me das roupas expondo minhas imperfeições e cicatrizes, assim como dispo minha alma em busca do novo. Não sei tramar, medir, articular. Se conquisto é por eu mesma, pela minha essência; minha manipulação é a minha transparência.

Sinto saudades de acreditar nas pessoas e daquele tempo onde as únicas promessas e planos eram as brincadeiras do dia seguinte (sempre cumpridas, diga-se de passagem, a não ser que caísse um toró). Sinto saudades de quando não existia msn e e-mail era algo complicado para usar; assim éramos obrigados a olhar nos olhos das pessoas e conversar. Sim, o msn, skype, e todas essas parafernálias facilitam a nossa vida em algumas ocasiões, mas tiram toda a nossa expontaneidade diante das emoções próprias e alheias. Sim, tenho um olhar infantil sobre tudo isso e adoraria ser criança para ter como única diversão os joguinhos e desenhos coloridos em multimídia. Mas eu sou adulta... e fetichista...

Há algumas semanas eu conheci um rapaz que me fez acreditar que algo ainda poderia valer a pena nesse mundo complicado do BDSM. Diante de tantos chatos desprovidos completamente de qualquer repertório, das montanhas de mentirosos que já cruzaram a minha vida, até hoje somente duas pessoas realmente valeram a pena na minha trajetória sadomasoquista - e peloamordedeus não pensem meus amigos que estou falando de vocês, ok! Falo dos famosos e controversos submissos. Sim, até porque submissAs são tão raras por essas bandas quanto araras azuis.

Conheci muita, mas muita gente mesmo. Nem saberia precisar. A maioria não me fez tremer nem um dedo, quanto mais me despertar a vontade de colocar pra fora a Lady Vulgata e seus diabólicos olhos verdes... Alguns valeram a pena pelo corpinho, confesso. Sabia que não seriam bons submissos, mas poderiam ser boas 'saídas'. E foram. Outros foram esforçados, mas não conseguiram conciliar suas vidas com as 'atividades' SM.

Mas valer a pena pra mim é criar cumplicidade, permitir aprendizado, confiar e se entregar ao hedonismo da cena, do momento e do relacionamento que se cria. É ter mais que afinidade; é ter química, parceria e respeito mútuos, não só pelos sigilos sociais, mas pelos sentimentos envolvidos. Já disse aqui que BDSM dessa forma, na minha opinião, é um tipo de amor... e muito prazeroso! Porém tão raro... tão tão raro...

E quem valeu a pena até hoje foi quem me iniciou como domme (sim, isso existe e quem me acompanha aqui sabe da importância do Tolkien na minha vida) e permaneceu com a minha coleira por mais de 2 anos;  e meu amado Monstrinho MZ Submisso, com quem completei um ano de relacionamento SM em fevereiro. Jurava que havia encontrado o terceiro... e este post não tem a pretenção de ser saudosista, tampouco falar das vezes em que nos decepcionamos na vida ou nos equivocamos, mas sim em lançar uma reflexão de como o BDSM pode causar medo nas nossas vidas por ser tão distante dos sonhos que fantasiamos.

Não estou aqui para falar mal do moço. Pelo contrário. Sei que ainda seremos amigos e confidentes. Tive o mais íntimo dele nas minhas mãos e vi nos olhos dele que não é pouco (coisas que nem ele sabia que estavam na sua alma; coisas que resplandeceram no seu sorriso em cada palmada e chicotada que eu dei). Extremamente honesto, franco, carinhoso e cavalheiro, além de inteligente e bem humorado. Entretanto, foi mais um vencido pelos fantasmas da consciência. Acho que todos nós já passamos por isso e são poucos os que enfrentam e vão adiante, por isso é tão comum dizer que "BDSM tem início difícil". Pessoas que acreditam que podem matar seus desejos em nome do que socialmente ou moralmente se convenciona como o correto. Pessoas que se deixam morrer um pouco a cada dia por desejar e abafar!

E também quero falar de algo muito importante que é o mau uso que os submissos fazem das dommes. Somos usadas por vocês, "senhores" (tsc), e nem sempre da melhor forma. Por que digo isso??? Por que a última coisa com que vocês se preocupam quando estão decidindo se querem ou não querem entrar neste mundo é com os sentimentos e as expectativas das mulheres que ali estão para lhes dar prazer (porque não adianta virem com esse blablablá pra mim que o escravo só existe pra dar prazer pra Rainha - é uma via de mão dupla!).

Que me perdoem as profissionais que cobram por isso, mas eu sou domme por prazer. Não recebo nada em dividendos a não ser as carinhas de felicidade dos meus submissos e essa tal cumplicidade tão difícil de se encontrar por aí. Promessas vocês fazem mil: desde expor-se ao ridículo, até desejar coleiras permanentes ("pode mandar fazer" lembra???). Colocam nossos nomes em seus orkuts e msns, dão presentinhos, mandam sms, escrevem todos os tipos de devaneios para que tenhamos certeza da sua entrega. Mas na primeira crise de consciência jogam a toalha e a descartável domme que se lixe e procure outro que a faça feliz!

Infelizmente não é assim. Com essa atitude de vocês, "senhores" (tsc), muitas boas dommes também já jogaram suas toalhas, desencantadas com essa irresponsabilidade com os sentimentos e tempo alheios. Eu mesma conheci algumas e estou no limiar de ser a próxima. Estou muito cansada. Muito mesmo. E se eu sair do cenário saibam que ainda existe a Lady Vulgata, só que ela perdeu a paciência de tentar ensinar, iniciar, ajudar e abrir as portas do prazer para pessoas que só pensam nos seus próprios umbigos. Talvez ela volte a ser aquela mulher baunilha recatada que foi descoberta 'por acaso' por um aluno insistente. E assim eu vivo minha vida pacata, eventualmente encontro meu Monstrinho (porque este é de fé!) e deixo essa loucura de lado.

Eu também passei por isso. Também fiquei com os meus sentimentos confusos após as primeiras sessões. Até porque era casada e nunca gostei de ser infiel. Porém, procurei compreender, serenar, conversar com o Tolkien, expor meus medos e angústias. O tempo mostrou que ele estava certo e que tudo isso passaria (as angústias, os temores, as dúvidas). Mas eu tive paciência, eu me dispus, eu não chutei o balde antes do tempo! Portanto, se valeu para mim que sou domme, vale para vocês que são submissos e vale em muito na nossa vida. Sim, temos que saber o que queremos pra nós, o que sentimos, o que bancamos, mas precisamos dar oportunidade à vida de nos mostrar todos os viéses daquele novo matiz que nos apresenta chamado BDSM antes de tomar uma decisão final!

Queridos, não façam as dommes de bobas. Sei que há muitas mulheres que não mereceriam ser chamadas de dommes e fazem misérias com vocês, mas estas nem deveriam ser chamadas dommes e nós, mulheres hedonistas por essência, não temos que pagar por elas. Quando encontrarem uma boa mulher disposta a realizar as fantasias de vocês, sejam no mínimo gratos à vida... e espertos em mantê-las...
Jamais estabeleçam compromissos de submissão e de coleira se não têm ABSOLUTA CERTEZA do que querem. Se assim for, se há curiosidade mas não firmeza, sejam honestos. Certamente a boa domme os iniciará com o mesmo empenho, só que ela mesma não criará expectativas acerca de um novo submisso.

Realmente lamento por mais esse episódio. Fizemos tantos planos e eu sei que você estava falando a verdade. Assim como sei que já havia muito mais que BDSM entre nós. O olhar, a pele, o beijo e os abraços não mentem jamais, sobretudo para quem é fetichista. E que o tempo, o mais sábio dos conselheiros, resolva essa situação para ambos que estamos sofrendo!

Desculpem pelo desabafo, mas este é um blog primeiramente de Confissões.

Beijos

LV

terça-feira, 9 de março de 2010

trecho apropriado

Ontem finalmente terminei de reler o "Eu sou uma lésbica", da Cassandra Rios. Me aproprio agora, por emoções recentes, de um trecho que cabe na minha vidinha nem-tão-comum-nem-tão-certinha.

"[...] Não seria possível distinguir essa emoção e paixão da loucura, tal o paroxismo a que chegamos. O calor do seu corpo penetrou-me, num delírio de embriagadora volúpia. As mãos nos seios, a boca na boca, a sandália entre os nossos corpos, o fetiche assassino, o fetiche estuprador, o fetiche simbólico que procurava seu esconderijo, o corpo que se movia para engolir o salto, a sandália metida entre os nossos corpos, rolando na cama, tecido rasgando, gemidos e palavras soltas, sem nexo, sôfregos e dolorosos, entre lágrimas e suor, pernas cruzando, coxas ajeitando-se, borboletas de asas negras entranhando-se numa dança frenética e sensual, numa fantasia que fez uma criança virar monstro e uma mulher se sentir um anjo."

Recomendo: o livro e a experiência...