O casamento dela era morno. Havia se casado por amor, era verdade. Porém, com o tempo o marido se mostrou alguém mais preocupado em acumular posses do que consigo mesmo, muito menos com a família. Com isso não deixava de querer bem a ele; sequer comentava algo negativo a respeito do seu companheiro; pelo contrário. Mas...
Ela nunca havia tido insônia. Bem resolvida, fazia o que gostava, ganhava bem, ocupava um cargo importante no governo e se sentia bonita. Mas nas últimas semanas, muitos pensamentos assombravam o seu sono, afugentando seu descanso. E nem era pelos roncos profundos do marido; ela estava acostumada. Sabia que, ao dormir, a casa poderia ser carregada por um furacão e ele não acordaria.
Pois há alguns meses ela havia conhecido um certo rapaz que contribuía para aumentar sua insônia. Aparentemente alguém comum, não fossem pelos cabelos longos, um fetiche antigo que ela alimentava secretamente. Conversando, ela foi percebendo que havia algo a mais que a perturbaria: a química. Ah! Essa junção de substâncias invisíveis e explosivas, capazes de tirar qualquer cristão do rumo. Com o tempo, descobririam que as afinidades eram maiores que supunham.
Numa dessas noites de assalto ao sono, ela se viu perturbada por uma imagem na porta do quarto. Sim, o rapaz já havia estado em sua casa e sabia o caminho do quarto, mas daí a se atrever a visitá-la durante à noite sem avisar e, pior, com a presença do seu marido, ainda que roncando feito um rinoceronte, era ousadia demais para que ela acreditasse não se tratar de um sonho.
Esfregou os olhos e viu ele colocar o dedo indicador nos lábios, pedindo que ela permanecesse em silêncio. Estupefata com a atitude atrevida e perigosa do moço, ela ficou sentada. Em passos leves, ele chegou ao lado da cama dela. Trajava uma calça folgada e uma camiseta leve, parecendo um pijama. Logo ela percebeu que estava muito excitado e, pelas formas que estavam diante dos seus olhos, confirmava que estava sem cuecas.
Numa atitude insana, ela puxou o elástico da calça, deixando o membro desejado à mostra. Como se o marido fosse uma almofada de decoração over, ela abocanhou o dito cujo do rapaz com toda fome que só as mulheres mal comidas têm - ora, quem já passou por isso sabe que o pior tipo de solidão é a que se desfruta acompanhada.
Ele abafou os gemidos, fechando os olhos com o prazer crescente. Como de costume, ela dormia nua. Foi fácil, então, que ele se aproveitasse do momento. A única coisa que os distraía era algum ronco mais agudo do marido que parecia em outro planeta, alheio à luxúria que se passava ao seu lado.
Pensou em levá-lo para outro quarto, porém um misto de arrogância e provocação a fez continuar ali mesmo o que pretendia consumar. O rapaz parecia concordar com tudo sem proferir palavra. O entendimento era perfeito via olhares.
O rapaz entrou por baixo das cobertas entre suas pernas, até chegar ao sexo que pulsava de tesão. Estava completamente molhada. Com volúpia ele a invadiu com sua língua, arrancando gemidos e suspiros fortes. Nessa hora o marido fez menção de virar-se. Ela abafou o prazer. Ele continuava. O marido roncava mais alto. Ela não podia mais se conter e então explodiu em gozo, fazendo seu corpo tremer, arrastando parte das cobertas para o chão. O marido abre um olho como se não a reconhecesse, puxa as cobertas e vira para o lado de fora da cama... para a alegria de ambos.
Foi então que ele subiu por seu corpo, beijando cada pedaço de pele, aproveitando cada espasmo; quando à boca chegou, encaixou seu sexo no dela e segurou suas pernas bem abertas. As mãos dele percorriam todo o corpo dela e as dela ora estavam tocando aquele vai-e-vem pela bunda dele, ora torciam o lençol para evitar os gritos.
Poucos minutos e a intensidade do ato tornou insuportável evitar o gozo. Orgasmo simultâneo, intenso, surreal. A cena parecia um simulacro inimaginável até para Almodóvar. Mas o prazer foi real e inesquecível.
O marido? Continuou dormindo o sono dos bem-sucedidos cornos prósperos. Ela nunca mais seria a mesma. Ele, provavelmente não sairia ileso de tamanha paixão.