quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Casa de campo

Era tarde na casa de campo. A maioria dos convidados já havia se recolhido. Ficamos apenas eu, ele e ela. Ela parecia distraída limpando o resto de sujeira que restou do jantar. Zelosa, quis conferir pessoalmente o trabalho das empregadas e do caseiro. Cabelos presos de forma displicente, blusa regata justa ao corpo esguio, short jeans, sandália e um colar de contas com algumas pedras.

Ele, parado, observava a lua hipnotizado. Cabelo soltos, roupa folgada, descalço. Nada parecia aborrecê-lo.



Eu estava tensa. Queria dormir, mas algo me consumia as entranhas. Um fogo libidinoso que me provocava a ser desleal com a dona da casa, assediando o distraído rapaz.

Era uma noite macabra, pelo menos para mim. A sombra que o corpo dele projetava na varanda me incendiava a libido. Me aproximei, contemplei, fiz silêncio, o encarei e senti uma reciprocidade que não poderia ser traduzida em palavras. Ambos olhávamos na mesma direção. Queríamos o mesmo.

Absorta na sua fiscalização doméstica, ela nem percebeu nossa presença. De onde estava, ainda mais sem óculos, no máximo nos confundiria com duas grossas colunas da extensa varanda.

Sem proferir palavra, ele me beijou. Sem pensar em egoísmos, retribuí. Aos poucos ele me arrastou para a parte de trás da varanda, onde os convidados não nos ouviriam, a menos que algum estivesse perdido no escuro do hall de entrada.

Ele me colocou sentada na soleira da varanda. Eu estava com um vestido longo, porém fácil de manipular. Ele vestia uma bermuda com elástico e foi bem fácil deixar tudo livre para um pequeno e intenso trecho de êxtase num dia de festa. Ambos agarrados nos cabelos do outro, beijos e mordidas, estocadas rápidas e constantes, gozo frenético, tremores de volúpia que perpetuaram a rapidez do momento. Meu corpo era só espasmo; o dele só satisfação.

Compostura.

- Amor? Cadê você? Me ajude a levar os pratos maiores para a cozinha da casa?
- aham... só um minuto... to chegando (com o humor habitual e dissimulado nas palavras)

Algo me encanta na dissimulação, talvez por ser um aspecto tão diferente da minha natureza e uma competência tão perigosa e útil. Eu me joguei na rede, como se estivesse a adormecer. E, sim, haveria de ser parceira na dissimulação proposta pelo meu hostel.

Francamente? Há coisas que não tem explicação...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010