Ela queria um sorvete com calda de chocolate e bastante chantilly, bem ao estilo colegial. Talvez sua pureza a denunciasse nos pequenos gestos como o gosto pela sobremesa de infância.
O estranho é que ele adorava aquele sorvete, mas para contrariá-la ou reforçar suas rédeas, resolveu pedir a taça com maçãs cozidas. Engraçado. Em anos jamais o ouvi mencionar maçãs cozidas como um gosto particular. Enfim...
A dominação tem dessas coisas. Há que se fazer contrariedades aos submetidos pelo desprazer da liberdade. Estranho. Eu jamais pensei que cercear fosse sinônimo de dominar, mas há quem discorde de mim e esse coro ganhou a força de alguém especial aos meus olhos e ao meu coração. Respeito. Ponto.
Nas colheradas lentas daquele sorvete pude observar como sou marciana diante deste mundo bedeessemista. Eu apreciei o meu sorvete ao lado de Cosmo, porque a ele não devo nada além do olhar cúmplice. E nem sei bem se a palavra é dever, só sei que o aprendizado é ao mesmo tempo belo e reflexivo.
Não se trata de crítica. Trata-se de observação de algo em que já estive submersa e que hoje me causa espanto quando vejo tão cruamente diante de mim. Talvez porque ao contrário dele, eu jamais planejei nada. Fui sempre impulsiva, improvisada, visceral. E talvez esteja aí o brilho dos olhos que eu senti falta, embora a beleza mesmo assim esteja radiante.
Sabes que te amo, né?
* Este texto é um pequeno mimo ao meu babyboy JonJon e sua CherryLips