quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

domingo, 2 de setembro de 2012

Vulgaridades

ENSAIO DESPRETENSIOSO SOBRE UM CONTO DE FADAS BDSM*



Estava quase mudando o título deste post quando me veio a idéia de procurar no dicionário o significado da palavra ‘vulgarizar’: tornar muito conhecido, divulgar, propagar. Portanto, o título é perfeito para minha linha de raciocínio.

Tempos atrás eu publiquei um texto sobre a construção do imaginário. Comentei como naturalmente criamos mitos em cima de pessoas que só conhecemos virtualmente ou com alguma distância em evento e festas, fetichistas ou não.

Recentemente comprei o livro 50 Tons de Cinza. Aliás, confesso, comprei logo toda a trilogia mesmo sabendo que os dois outros livros demorariam alguns meses para chegar. Comprei de teimosa, porque a maior parte dos meus amigos já torceu o nariz de cara para a sinopse. Assisti a alguns vídeos e fiquei apavorada quando a estória foi comparada a Crepúsculo – que não é exatamente o tipo de literatura que curto. Resumindo, pelas previsões, tinha tudo para odiar o livro e ter jogado meu rico dinheirinho no lixo.

Porém, surpresa! Eu amei o livro. Li em menos de dois dias as mais de 500 páginas do volume, ansiosa para que chegue o segundo, previsto para o mês que vem. E em meio a tantas críticas e o massacre da autora, resolvi escrever sobre o dito cujo com o pouco de autoridade que minha paixão por livros e meus anos de BDSM me conferem.

Analisemos os fatos. O livro foi escrito por uma mulher para mulheres LEIGAS. O livro tem uma narrativa bem construída, que cumpre perfeitamente aquela vontade louca de devorar uma página atrás da outra. O livro tem romance de forma pouco piegas e nada convencional. O livro mexe com a fantasia de toda mulher – ter em algum momento da vida um homem lindo, que a proteja e por que não rico?

Logo, o sucesso seria fatal. Se a senhora Erika Leonard James queria polêmica, ela conseguiu com elementos simples de acordo com os conceitos mais banais da psicologia social. Considerada uma das personalidades mais marcantes e influentes da Inglaterra contemporânea, a autora pisou num terreno sedento por aceitação. Por mais bem resolvidos que nós os fetichistas e / ou sadomasoquistas sejamos, sabemos que a marginalidade é a nossa praia e isso nem chega a incomodar alguns; mas perturba a muitos.

Li num comentário de um amigo que Cinquenta Tons de Cinza é uma trilogia como Sabrina ou Júlia, ou qualquer romance água com açúcar que recheou os sonhos das meninas-moças das décadas de 60, 70, 80 e 90. Sim, concordo. E eu adorava aqueles romances.

Raramente entro em discussões acaloradas nas redes sociais porque penso que após dois ou três trechos o argumento dá lugar à vaidade numa disputa sedenta pela razão. Prefiro ficar lendo e refletindo. Porém, a reflexão central do sucesso de 50 Tons para mim passa por uma questão importante: por que o diferente precisa ser denso? Ou melhor, por que a leveza de um romance não pode habitar estórias fetichistas ou SM?

Partindo do pressuposto que a literatura, assim como o teatro, o cinema e as artes em geral devem nos levar a mundos distintos por meio do lúdico, do prazer, do novo, do inusitado, da provocação e até do incômodo, qual o grande ‘erro’ de 50 Tons para estar sendo tão criticado pelo público SM? Será que é medo de que muita gente queira de fato conhecer esse mundo perverso, mundano e luxurioso e nos perturbe a paz com suas perguntas ingênuas ou descabidas? Ora, senhores, e isso já não acontece com freqüência mesmo antes destes fenômenos literários que tiraram a poeira das prateleiras de Sade e Bataille?

Mulheres buscando um príncipe encantado, de chicote ou cavalo, sempre vão existir. Aliás, elas estão aos montes no FetLife e em todas as redes sociais, muitas vezes disfarçadas em peles costuradas em letras muito bem escritas, ideologias requentadas e frases de efeito reconstruídas.



Tons indigestos


Ok, o livro é ingênuo para um praticante SM. Concordo. Até porque talvez até eu virasse sub “Alice” se um Christian Gray me aparecesse pelo caminho...rs

O que temos na vida real é bem mais cru esteticamente e na prática! Não há quartos da dor, tampouco concessões contratuais naquele nível. Eu pelo menos nunca soube de nada parecido.

Talvez uma impressão mais próxima da realidade, igualmente despertando emoções, só que de forma mais crível para a mente de um sadomasoquista, está contida no livro Amsterdã SM, do professor Antonio Vicente Seraphim Pietroforte. Na trama - que uns dizem ser autobiográfica - o autor narra as bizarrices da capital do submundo numa perspectiva fetichista. As sensações inquietantes e indigestas nos fazem viajar pelas cenas da capital holandesa. Não a toa é considerada a melhor novela erótica sobre o tema escrita em português.

#ficaadica



Tons inversos


E o que seria a relação Anastacia Steel e Christian Gray real?

Em primeiro lugar, o livro me despertou lembranças, emoções inquietantes e nostálgicas pelas quais me senti confortada em perceber suas existências. Emoções relativas a submissos e dominadores com os quais tive relacionamento. Logo, se as emoções existiram, é porque existe um vínculo do devaneio da autora com as reais práticas BDSM.

O vínculo maior, para mim, foi a inquietação que uma pessoa sente ao entrar neste mundo. A sensação de ser diferente, lasciva de forma insana. Não é rebeldia; é a transgressão de si mesmo. E esta sensação está impregnada nas páginas de 50 Tons, sobretudo na personagem de Anastasia, a submissa.

Outro ponto fundamental que acho similar ao real é como a submissa conduz verdadeiramente a relação. Uma fala de Gray mais ou menos no meio do livro chega a declarar essa premissa com todas as letras. Eis uma ‘verdade’ polêmica da qual sempre falei em textos e conversas. O poder do submisso é muito grande e está na sua satisfação muitas das posturas do dominador. Com a desculpa de agradar ao dono ou dona, o submisso ou submissa se submete a certas transgressões, mas na verdade testa os limites e o poder de quem está acima no chicote, exigindo disciplina, equilíbrio e estudo freqüentes, além de uma sensibilidade e responsabilidade de que pouco se fala neste universo.

Por fim, apesar de ser um livro com poucas entrelinhas – tudo passa a ser muito explícito logo na terceira página -, há algo de revelador nas tentações movidas pelo marketing de prateleira. A dominação psicológica sempre terá mais valor do que qualquer prática ou mesmo teatro SM. E se E.L. James bebeu ou não bebeu da fonte (ela nega em entrevista recente concedida à Revista Veja), só ela mesma para explicar os agradecimentos prévios do livro. Para mim, fica claro que sim. Ela dá detalhes demais para alguém que apenas imaginou um cenário sadomaso. E sabemos muito bem que quando se trata do Lado B de cada um, tudo é muito relativo. Agatha Christie que o diga...

* Texto originalmente publicado no portal iFetiche


quinta-feira, 28 de junho de 2012

A história sem fim




Há centenas de anos, alguns espíritos errantes se encontraram pela primeira vez. De modo grosseiro, alguns se feriram, outros se abraçaram em meio à embriaguez. Construíram castelos de pedra e outros de areia. Destruíram aldeias, angariaram dívidas, perpetuaram uma leva.

Muito tempo e muitas existências depois, sem um fio de memória aparente, 22 cavaleiros se encontrariam novamente com a desculpa de profanar o desejo, de mergulhar no mundano.

Aparentemente alguns nada possuíam de afinidade, já outros estranhamente se reconheceram por razões nada lógicas. Eram 22 almas sem pretensão à santidade, porém não talentosas a ponto de coordenar o inferno. Seres nem tão despretensiosos, com o intuito único de encontrar o prazer. E acabaram por encontrá-lo basicamente, simplesmente, furtivamente na amizade.

A carga do ego os cegou por algumas vezes, mas esta força intrínseca que fez com que seus espíritos errantes buscassem uns aos outros venceu todos os contratempos. Assim, o insano, o bruxo, a matriarca, o autoritário, o lúcido, a sádica-meiga, a desbravadora, o disciplinador, a isolada, o inquieto, o promotor, o generoso, a criatividade, o perdido, a brilhante, a sutileza, o iluminado, a sensatez e a originalidade vêm escrevendo esta estória / história que está apenas começando.

Vivat tarot societatis!


domingo, 13 de maio de 2012

桜、日本の桜の木


Dizem que a cerejeira japonesa produz a mais delicada flor que dá o ar da graça neste Planeta. Ouvimos muito falar na Sakura, mas há quem nunca tenha visto nem fotografia desta beldade vegetal.

Dizem que a SophiaPsique é uma moça centrada, equilibrada (como boa oriental), excelente cozinheira, talentosa com números e letras, motoqueira aventureira, porém ‘dura na queda’ com seus sentimentos.

Dizem...

No Japão, a flor de cerejeira (sakura) é considerada uma metáfora para a vida, como um guia que garante o belo e farto outono sem falhas. Além de ser o símbolo dos Samurais, por se espalhar por todos os cantos que necessitam de sua presença.

No Brasil, mais especificamente no interior do Paraná, essa moça é certeza de tranquilidade, superação e aprendizado para quem tiver contato com ela. Gostos exóticos, cortinas arregaçadas, uma página da vida virada por dia com letras bem lidas em meio ao longo e denso manuscrito que ela aceitou descortinar nessa existência.

E nas suas torneadas pernas, as sakuras desfilam como símbolo da beleza feminina e sexualidade plena.  Subindo pelo corpo, as flores de cereja cumprem seu papel indicial de anunciação do amor.

De desenhos animados ao chá da felicidade matrimonial, as sakuras são usadas como prenúncio de alegria e de abundância. No moku hanga - uma arte japonesa milenar similar à nossa xilogravura – as sakuras demonstram a sensualidade feminina por meio das formas delicadas e cores intensas.

Assim como o perfume das flores de cerejeira, intenso e efêmero, Sophia nem sempre faz questão de ser notada. Como o gosto das sakuras, que de tão delicado foi comparado ao gosto do primeiro amor, sua presença sempre deixa uma sensação de querer mais.

Por tão poucas horas que passamos juntas e pela correria do dia a dia, nada explicaria a saudade que sinto dessa menina que agora me chama de mommy. Uma bela mulher, de altura e alma avantajadas, cujas sakuras representam a leveza do seu espírito.

E como viajar faz parte da minha mente fértil, nosso arcano 20, O Julgamento, não poderia estar em melhor arquétipo feminino. A precipitação de tudo que está por vir, assim como as sakuras anunciam uma nova estação.

Desejo que as lindas sakuras que percorrem teu corpo te tragam beleza, segurança, atrevimento e consensualidade, mas que sejam eternas como é marcante a tua presença. 



長く幸せライブ

domingo, 22 de abril de 2012

Rótulos ficam bem em potes de molho*



Considerações sobre Tops, Bottons, Dommes, Doms, Masters, Mistress, Subs, Slaves, Sadistas, Sadeanos, Masoquistas, Sadomasoquistas, Fetichistas, Baunilhas e Switchers
             
            O cara entra num site e começa a ler o texto. Um festival de nomes deixa tudo mais confuso. “Se você for switcher, bla bla bla”; “Caso for do desejo do Top, o bottom deve blablabla”.
              Afinal, o que são essas palavrinhas que parecem denominar os papéis e dar as cartas dentro do cenário fetichista, ou pelo menos dentro do cenário sadomasoquista?
                Sabe aquela pessoa que adora mandar, sente prazer em ser servida, amada, idolatrada, quer ver seus desejos decifrados e realizados com maestria, dá risadas com a humilhação dos seus servos na tentativa de lhe agradar? Esta pessoa não é o seu chefe (pode até ser, mas neste caso não importa a profissão). Esta pessoa é o dominador. Uma Domme ou um Dom sempre terá prazer em ser servido. Os traços psicológicos variam bastante, mas alguns são comuns: altivez, autoritarismo, severidade, vaidade, rigidez, sarcasmo e boa dose de ironia. Os diferenciais sempre bem vindos são a responsabilidade, a ética com as suas ‘peças’ – nome dado por alguns deles aos seus submissos, e o cuidado com a segurança e a integridade de toda a cena, além da inteligência e do repertório sociocultural.

                Já a Mistress ou o Master podem cumprir o papel de dominadores, mas não necessariamente o são. Cabe eles primordialmente serem especialistas em alguma área ou fetiche. Portanto, o cara pode ser um Mestre Bondagista, por exemplo, e não gostar de dominar ninguém, não querer submissos ou submissas. O prazer dele é imobilizar e o prazer de quem está amarrado é se submeter ali, naquele momento, à MAESTRIA daquela pessoa em determinado assunto. A Mistress pode ser excelente hipnodomme, mas detestar vínculos. Só quer a cena e o prazer de dominar pelas técnicas da mente. Logo, em se tratando de Masters e Mistress, o submetido não necessariamente precisa ser submisso; pode ser um Dom, uma Domme, um switcher, um fetichista, outro Master ou Mistress, um curioso ou aluno. A confusão acontece porque algumas Dommes ou Doms se intitulam Masters ou Mistress de forma equivocada. Para estar enquadrado nos últimos nomes é preciso dominar a arte, o fetiche, e não a pessoa, ainda que seja a arte de humilhar, a arte de espancar e por aí vai. Portanto, iniciantes dificilmente serão Masters ou Mistress, a menos que tenham estudo ou praticado muito antes de entrar para as sociedades fetichistas ou sadomasoquistas.

                E o Top? Que diabo é o Top ou a Top então? O bom (confortável) dos Tops é não necessitar de nenhuma prática. Quem é Top detém notório conhecimento e habilidade psicossocial na interação com seu grupo e os demais. O Top sempre tem suas preferências e suas maestrias, mas muitas vezes escolhe ficar observando ou orientando. As principais características de um Top são a persuasão e a lealdade, já que – de acordo com o conceito desenvolvido ao longo dos anos e presente na literatura BDSM – tratam-se de pessoas que circulam em grupo, nunca apenas com um par. Para merecer a confiança dos seus, devem ser íntegros, apresentarem lisura nos atos e justiça nos seus julgamentos. E não é questão de considerar dicotomias como o bem e o mal, por exemplo. O Top deverá ser leal de qualquer forma, senão não terá seguidores. É uma figura que desperta admiração e aí reside a sua vaidade e o seu trunfo.

                Bottons são pessoas que servem aos Tops? Não necessariamente. A principal característica de um bottom é ser entregue; é um laboratório de descobertas para quem se dispõe, tem paciência e habilidade para aceitá-los. Esta pessoa quer ser conduzida literalmente de olhos fechados e por isso necessita de total confiança e entrega na sua relação. Frequentemente esta entrega também é afetiva, o que faz com quem muitos Dominadores e Masters rejeitem esta figura já que ela ‘perde’ sua personalidade na relação fetichista. Diferentemente do Slave ou Submisso, o Bottom não impõe limites; permite que o Top, Dom, Domme, Master, Mistress ou Switcher descubra seus limites. Quem aceita treinar, fazer sessão ou cena com um bottom deve ter suas anteninhas muito ligadas porque é comum que ele tente ultrapassar seus limites para agradar quem está no comando.

                Mas então o masoca – apelido carinhoso dado aos masoquistas – é um bottom? Não. O masoquista sente prazer em sentir dor e não necessariamente em se submeter ou realizar desejos. Na verdade, o masoquista não está ligando muito para o que quem está do outro lado da tala, chicote, vela ou qualquer outro instrumento que lhe aplique a dor, sente. Ele quer é sentir prazer e por isso aceita algumas situações que frequentemente são confundidas com a submissão. Masoquistas conscientes sabem seus limites, sabem o que lhes provoca o prazer e é comum que sejam pessoas de bastante repertório, inteligência e traquejo emocional. Por dominarem seus próprios desejos, acabam tendo comando indireto na cena a que aparentemente se submetem, provocando o delírio de Tops, Switchers, Doms, Dommes, Mistress e Masters que aceitem lhes impingir a dor.

                E o Switcher? Maluco indeciso? Não. Não consegui localizar nada que me desse subsídios referenciais para falar do Switcher, mas vou falar da minha experiência, sobretudo da observação de como as pessoas gostam de se posicionar dentro do universo fetichista. O Switcher, longe de ser um cara ou uma mulher que está indecisa, geralmente é uma pessoa madura, dona do seu nariz, que aceitou provar os dois lados da moeda e gostou de situações pertinentes tanto à magia de dominar, quanto à beleza e coragem de se entregar. Vejo o Switcher como uma pessoa que não gosta de rótulos, se permite novas experiências e não se incomoda com o julgamento alheio. Busca o prazer em primeiro lugar.

                Sádico ou sadeano? Sádicos todos somos em alguns dias da nossa vida. Quem nunca sorriu ao ver um malandro se dar mal? Quem não tem vontade de esfolar um vivo quando é prejudicado ou tem um amigo trapaceado? Ser sádico, por essência, é sentir prazer em impingir a dor, seja moral, seja física. O sofrimento alheio, encenado ou não, provoca prazer profundo no sádico. Já o sadeano é alguém de personalidade mais rara, adepto dos pensamentos e doutrinas do Marquês de Sade, mas não necessariamente se compraz no sofrimento; e quando o impinge, o faz para poder sanar o mesmo sofrimento que provocou. O sadeano, em essência, é alguém provocador, vaidoso, obseno, culto, malvado, mas extremamente carinhoso e protetor. O ‘moralismo’ de Sade está presente em suas atitudes e pensamentos, e ele quer viver o prazer na prática, nunca (apenas) no campo das expectativas.

                Sadomasoquista é um ser que aprecia todas as práticas que envolvam dor, não importa se na posição de provocar ou sofrer. Frequentemente confundido com Switcher, esta espécie fetichista nos diverte (porque promove grandes espetáculos), mas precisa ser consciente dos seus limites. Difere-se do Switcher por ser praticante de cenas que envolvam dor física ou moral, não necessariamente submissão ou entrega permanente.

                Slaves e submissos são as alegrias de todos. Graças a eles nós do outro lado da força sentimos prazer. Eles se jogam, aceitam, se humilham, servem, nos fazem rir e nos enternecem. É por eles que maquinamos planos, matutamos cenas, treinamos e aperfeiçoamos habilidades. Eles são nossos objetos de orgulho, de preocupação e de proteção. Infelizmente muitos são irresponsáveis, escorregadios e imprudentes, com gradações de chatices que beiram a loucura. Mas submissos nem sempre são slaves e slaves nem sempre são submissos. Daí vai do que cada um topa e do acordo que faz com cada dominante ou mestre, seja de cena ou seja permanente.

                O fetichista é tudo isso e um pouco mais. Pode ser tudo ou nada, mas sempre será a pessoa que assumiu que tem desejos com padrão incomum. O fetichista tem apenas uma premissa: se permitir, ainda que na observação. Pode se descobrir fetichista como voyeur ou como sádico no spanking; como submisso que gosta de ser pisado (um tipo de podólatra) ou como Dom que prefere ser idolatrado. Fetichistas somos todos nós que assumimos o nosso lado B.

                E se você leu até aqui e pensa que não se enquadra em nada disso é porque definitivamente você é baunilha. Pode até sentir prazer na estética e neste sentido poderia ser confundido com o fetichista. Porém, o mais comum é que seja apelidado de baunilha apimentado. E ser baunilha não é rejeitar e sim não sentir prazer em nada do que foi descrito até aqui.

                E antes que alguém me diga que estou errada, que é assim ou assado e que escrevi bobagens, este é um texto descritivo, baseado nas minhas pesquisas acadêmicas (que devem virar tese em breve), na minha observação, na minha própria vivência e na minha estada no grupo BDSM Santa Catarina. Provavelmente se você achar que estou errada, estou mesmo. O importante é que cada um seja feliz dentro do seu entendimento; que este entendimento ou rótulo seja preciso de acordo com suas convicções. Mas como tudo no mundo (ou quase) possui uma classificação em algum tempo, aqui está a minha.

*Artigo publicado originalmente no site iFetiche

quarta-feira, 21 de março de 2012

Pekenas atitudes

 É sempre assim. Frases feitas desde criança, na escola, na rua, no trabalho, na filosofia, na ideologia. ‘É de pequeno que se aprende’; ‘pequenas atitudes, grandes mudanças’; ‘nos pequenos frascos estão os grandes perfumes’...

Sim, é nos pekenos detalhes que mora a diferença. Pekenas gentilezas, pekeno gesto de afeto, pekeno olhar, pekena pretensão. Grande amizade, carinho em abundância, completo entendimento, ‘monstruosas’ conquistas.

Há alguns meses conheci uma Pekena de parar o trânsito. Ruiva meio tímida, jeito desconfiado e observador, corpo esculpido pelo tempo e pela mãe natureza. Poucas palavras e as portas foram se abrindo. Pekena de tamanho, mas grande na sensibilidade. Em poucas horas já conhecia os trajetos de todos, com nuances bem profundas. Talvez o ar que a enternece e a assusta em movimento seja o pai das suas intuições. Aquariana criativa, cheia de ideias, guiada pela força de Oiá, o que lhe confere certa teimosia, postura cheia de razão paradoxalmente equilibrada com uma doçura que faz com que todos queiram protegê-la.

Ledo engano. Pekena acaba protegendo quem a conquista não pelo tempo ou pelos títulos, mas por algo que não tem muita explicação e ao que muitos chamam sexto sentido. A habilidade com as mãos é apenas um pekeno detalhe do seu encantamento, misto de hipnose, alegria e luxúria. É como uma pekena interrogação que anseia pela resposta qual menino que correu atrás de uma pipa por horas, admirando um céu e um ponto colorido.

Nosso Arcano 14 - número complexo e representativo de acesso – carrega A Temperança como símbolo da nossa família. Um pouco de temperança faz tanta diferença... Hoje, lembrando de quando ela ainda não estava entre nós, enxergo com clareza esta lacuna de Inspiração e Alquimia.

E como não poderia deixar de ser, são pekenas palavras estruturadas de forma singela num pekeno texto que tem a pekena pretensão de demonstrar publicamente meu IMENSO carinho, minha GRANDE admiração e meu PROFUNDO respeito por ti, guria linda!





quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Pela minha cabeça


Eu tinha escrito tantas coisas pra ti, meu amor, mas ontem resolvi apagar quase tudo. Pensei que o teu post deveria ser tão emocionante quanto a alegria que tu me dás todos os dias ao me acordar com carinho, mesmo diante das maiores dificuldades.
Ontem à noite, ao ouvir ‘Por una cabeza’, de Carlos Gardel, pelas meninas do Quinteto de Cordas de Campos, senti essa emoção e percebi que havia achado a melodia adequada. Então recordei da cena do filme Perfume de Mulher, onde a personagem de Al Pacino conduz brilhantemente a de Gabrielle Anwar pelo salão, mesmo sendo deficiente visual.
Na minha cabeça maluca, muitas conexões foram feitas. Quando nos conhecemos, havia um abismo entre nós de interesses, de metas de vida, de entendimentos, de fé, de conhecimento. Mesmo assim, a afinidade – aquela que não se explica – foi imediata. A amizade e a química só cresceram. Os amigos mais próximos sabem que ambos tentamos negar, fugir, mascarar. Mas não deu. A vida nos passou uma rasteira e nos uniu de forma irredutível.
Sem entender muito bem, fomos usando a afinidade e o carinho para superar as diferenças e as barreiras da convivência. Muitas coisas mudaram. Aquele medo que sentia em ti por tantas novidades arrebatadoras foi sumindo. A confiança e o respeito crescendo. A paixão dando lugar ao amor.
Antes eu te via um tanto perdido diante da nova vida. Cego em teus preconceitos arraigados, nas tuas imposições ao próprio destino. Entretanto, mesmo portando essa ‘cegueira’, foste capaz de me conduzir da forma mais bela pelos salões do coração. Justo eu que já não acreditava mais em casamento, em amor duradouro, em planos para o futuro. Talvez a ‘cega’ fosse eu neste quesito...
E ainda que a letra de ‘Por uma cabeza’ não traduza nossa relação, a melodia que emociona diz muito a nosso respeito. Somos um casal diferente em idade, em aparência, em conduta. Não rezamos cartilhas fáceis nem seguimos modismos, muito menos temperamos nossas vidas com aprisionamento. Somos estranhos. Somos plenos.
Assim como disse uma ‘velha’ conhecida, acho que realmente começamos a aprender a amar e isto ninguém nunca vai nos tirar. Tu és o meu homem, meu marido, meu namorado, meu companheiro, meu amigo, meu porto seguro, meu brinquedinho pervertido, minha alegria e deste um passo muito além do que era o meu sonho...
Por isso, com toda segurança e gratidão do mundo, sei que nunca sairás do meu coração e que ainda queres ter essa chata e birrenta ao teu lado por bastante tempo.

Te amo!!!

Tua LV

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A primeira impressão nem sempre é a que fica

 Diz o ditado que a primeira impressão é a que fica. Eu discordo. Essa história de “meu santo não bateu” nem sempre se perpetua. Sim, nosso “santo” pode se enganar.
    E foi assim com a mocinha dona de um dos cabelos mais lindos que já vi ao vivo. Nossa Lua me causou estranheza quando a conheci. Não foi propriamente um “não gostar”, mas uma incógnita que me parecia indecifrável. Talvez essa minha incapacidade de compreensão momentânea tenha mexido com minha vaidade e por isso resolvi pensar que “os santos não haviam batido”.
    Pois então. Havia uma grande barreira que me incomodava. Ela era o novo amor do meu querido JonJon. Como eu poderia conviver com alguém ao lado dele sem ter certeza que ela o faria feliz? Tá bom, Vulgata, tu não és o Xangô do mundo. Então fiquei me autoconvencendo que havia algo de errado com esta impressão. Torrei o saco do Monstrinho e do Duduh com minha verborragia, na busca de que eles me convencessem do contrário.
    Mas felizmente tudo mudou na Play de outubro, quando consegui finalmente conversar com a Aurorah. Descobri que assim com a Lua, arcano que ela bem representa na SAT, Aurorah é de uma beleza profunda tanto quanto seu olhar, realmente invulgar, que só se decifra diante da entrega paciente e desprendida de pudores. A doce bruxa tirou aquele véu que me assustava dos olhos. Véu que só me era estranho porque representava um espelho de energias que eu mesma precisava trabalhar em mim.
    Generosa, Aurorah me ofereceu lições de humildade, carinho, paciência e admiração, unidos a atributos que eu ainda não possuo, mas que admiro. O mistério pode ser positivo e a angústia de querer ter o controle de tudo muitas vezes atrapalha nossa visão.
    Por isso resolvi não contar uma fábula ou mesmo transformar esse episódio em parábola. Trata-se de um post de gratidão e desejos positivos acerca de uma menina-bruxa com quem aprendo muito sempre... e com quem pretendo conviver mais e mais, apesar da distância física.
    Aurorah, querida, nenhuma palavra que eu escreva aqui faz jus à tua beleza e ao bem que tu tens oferecido ao grupo, sobretudo ao Jon. E é por isso que trata-se de um escrito com a maior simplicidade possível, quase uma dissertação, pois ainda não me sinto com talento para poetizar sobre a tua presença...

Com todo o carinho, da Mommy!


   

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Parabéns, minha Estrela!

Como blog de confissões, nem sempre elas são novidade. E hoje é aniversário de uma mocinha muito especial não só na minha vida devassa, mas principalmente na minha vida cotidiana.

Há pessoas com as quais simpatizamos de cara, como se nossa alma reconhecesse de algum lugar. Sem motivo aparente, gostei da Jeh desde o primeiro dia... e olha que ela me olhou toda desconfiada quando fui abraçar seu amo, o meu mano-amigo Parallax.

São apenas 22 primaveras da nossa Estrela em uma cabeça cheia de originalidade, franqueza e maturidade, ordenadas por um coração seletivo, amigo, leal. Confio na Jeh, tenho prazer em estar ao seu lado, acho ela linda e desejo de toda a minha alma que ela seja cada dia mais feliz com suas escolhas. Que seus sonhos se renovem sempre e que a vida lhe sorria com todos os seus dentes...


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Prazer, sou bonita! Olá, sou O Mundo!



    A pobreza de espírito do ser humano faz com que criemos pré-conceitos, rótulos desnecessários que só atrasam os verdadeiros objetivos de quem se permite. Mas felizmente as histórias de nós mortais podem ter finais felizes.
    Pois bem, vou contar uma fábula para vocês, bem ao estilo Vulgata...
    Era uma vez uma mocinha de longas madeixas cor de ouro, rosto de boneca, jeito e voz de gata, corpo esculpido com generosidade pelos anjos. Não bastasse o visual impecável, o Olimpo a premiou com cultura e inteligência temperadas com personalidade forte, ideias próprias e pontos de vista bem definidos, tornando o conjunto de uma beleza ímpar.


    Certo dia a deusa felina resolveu assumir seu lado B, o que incluía chicotes, cordas, prendedores, dominação e sadismo. Pronto! Estava tudo confuso no reino dos malvadinhos. Por ser tão linda, roubaram-lhe o direito de ser livre nos seus desejos. Esqueceram de perguntar à moça o que ela sentia e como sentia. Sua emoção era igual à de todos os demais malvadinhos do condado. Tinha sentimentos, anseios, desejos, erros e acertos. Mas seu ‘crime’ era ser bonita demais. Logo, teria que se conformar em ser apenas admirada. Viver era para os de aparência ‘normal’.
    Porém, Olimpo e contos de fadas chegaram a um acordo e permitiram a um certo príncipe Pendurado que ultrapassasse a redoma e a libertasse do fardo de ser a bela inexperiente.
    E desde então esta história tem sido escrita com muitos sorrisos, descobertas e prazeres para ambos e para aqueles que admiram a honestidade e a coerência dos quereres.
    E como todo conto de fadas carrega uma moral, eis a da deusa felina e do príncipe consorte: quase tudo na vida passa – beleza, amores, empregos, dinheiro, algumas amizades... O que realmente fica são as lembranças, o aprendizado e a verdadeira emoção do que foi vivido intensamente!


    O Mundo é assim. Uma constante mudança, metamorfose de sentimentos, brilhos, matizes com presença certamente inesquecível.